Praça, damasco, coreto
O centro da vila pacata
Em movimento lento
Há onze anos já foi palco
Do primeiro amor
Há um ano serviu apenas
Para endurecer corações machucados
Há poucos meses virou cenário
De um filme em preto e branco.
A vila, hoje cidade
Anda em círculo na existência
E dessa roda eu desviei
Meus pensamentos e lembranças
Um salto me levou
Para outras rodas existenciais
E lá não tem espaço para lembranças vis
Lá estou em trânsito
Com gente indo e vindo.
Onde me encontro agora
Tudo tem mais equilíbrio
E o passado é só uma velha roupa colorida.
Aline Rafaela Lelis
Como ir adiante
Se tua face e verdade estão tão distantes?
Quebrar o gelo? Construir uma ponte?
Atravessar a dor?
Enxergar o amor em seus olhos amendoados ?
Esforço feito em vão para se sentir amado?
Tu estás distante (sempre esteve)
E eu sou uma ilha
Para chegar até mim
Custa o tempo de uma perdão
Custa o preço da solidão
Custa a lágrima derramada
Daquela criança apartada
Do seu ninho, sem proteção
Somos duas sereias alheias
Diante das nossas verdades
Das nossas doces vaidades
Do orgulho que sustenta muralhas
Eu não te vejo daí,
Tu não me vês daqui
Impenetrável até o fim
Eu e você somos assim.
Meu coração não te alcança
Seu pensamento não me afeta
Sou estrangeira no seu mundo
És uma estranha em minha festa.
A ponte que nos liga é o perdão
O muro que nos afasta é a razão
Em minha ilha protejo-me de você
Do perigo que é ama-la sem se sair ferida
Do perigo de doar- me inteira e com vontade
E mesmo assim ser preterida.
Ferida pela indiferença
Pela frieza que nunca fui capaz de compreender em ti.
Aline Rafaela
Notas de Celular (Fev/2020)
Menina de cabelos vermelhos
Sua imaginação é tudo que tenho no momento
Encontra-la aleatoriamente nesta vida
Foi a melhor coisa que me aconteceu
Seus olhos azuis e grandes como bolas de gude
Me fazem viajar no tempo,
Vendo você menina reconheço a menina que fui
Estranha, imaginativa, sensível...
Você veio me dizer que eu preciso fazer as pazes comigo mesma
Com aquela que sobreviveu as mais cruéis adversidades
Você veio me mostrar que, de certa forma, eu ainda sou menina
E tenho um mundo para descobrir
E eu só tenho que agradece-la por existir
Mesmo sendo você, apenas uma personagem de um livro bom
Aline Rafaela Lelis
Existem certas coisas que são indizíveis, e querer compartilha-las é bobagem. Precisamos ter nossos segredos e saber contar com nossa própria presença. Do contrário, nunca saberemos quem somos de verdade, nunca saberemos o que é ser testemunho de si mesmo. E isso não se compartilha. Não se diz a respeito. Apenas viva e deixa estar o que não podemos traduzir em palavras.
Aline Rafaela Lelis
O apreço pela jornada é uma questão de sobrevivência. É preciso gostar do eu, topar se arrepender, ver orgulho na caminhada por si só. Sabe, não dá pra ter tristeza muito longa, nem alegria de mentira. Há tempo e há vida.
MAGALHÃES, Mallu. Documentário Turnê Vem. 2017-2018.
(Canção de Di Melo)
Não há razão para fugir dos aprendizados. Tem épocas na vida que precisamos saber esperar. São os chamados momentos propícios para contemplação e não para a ação. A hora certa de agir vai chegar, quando o copo tiver cheio, quando as asas já estiverem curadas, quando as pernas pedirem movimento. Tudo em seu tempo. Se hoje você se encontra em algum lugar distante de você, do que você é, aprenda com ele. Talvez você precise aprender mais com as pessoas desse lugar do que elas com você. Paciência e Fé. As coisas não estão um turbilhão só dentro de você. A natureza humana é feita de turbilhões. Se ficarmos quietinhos e em silêncio, pode ser que conseguimos arrumar a bagunça dentro de nós. Mas basta uma brisa para desarrumar. E isso é constante. A maturidade é aprender a lidar com as coisas humanas. Nossos sentimentos em desarranjos, nossas memórias cheias de energia, nosso passado, presente e futuro, nosso desejo de ser completo sempre, como se isso fosse possível. É tudo muito desarranjado e desafinado mesmo. Para equilibrar essa dispersão de coisas acontecendo dentro da gente, temos o outro, temos a música, temos a arte, temos a natureza, temos deuses e deusas. Tem aquelas pessoas por quem os sinos dobram, tem o trabalho, tem a dança, tem a voz, o trem, a montanha, a esperança, a estrada, os irmãos de alma, a criança. Então, quando tiver passando por momentos em que a vida parece estar indo na direção contrária ao que você é, aceite, aprenda com as adversidades e acalma o coração. Tudo é crescimento. Dê uma pausa, respira fundo, contempla as estrelas no céu e saiba que mais importante que a velocidade, é a direção. Construa o seu futuro com calma. A vida está mesmo, é te ensinando a fazer escolhas.
Aline Rafaela Lelis
Se só a morte em si
Me fizer lembrar da vida
Que triste fim seria
Esta minha jornada.
Como trazer a vida
Para dentro de um coração
Que não crê em mais nada?
Não sinto pulsar
Uma gota de esperança
Em minhas veias.
Meus olhos pedem socorro
Meu sono é um aviso
De que estou cansada demais
Para lutar sozinha
Queria que viesse até mim
E me dissesse:
"tudo vai ficar bem
Você não está sozinha
Vamos até a cozinha
Vou te fazer um jantar,
Não se preocupe minha querida!
Que eu não solto da tua mão
até você voltar a caminhar"
Se só a morte em si
Me fizer lembrar da vida
A morte simbólica
O que significa?
Que devo reagir antes da morte em si chegar?
Que devo viver e sentir vida pulsar?
O que eu mais quero é acordar
Acordar da letargia, eu juro!
Só não sei por onde começar,
E também estou sem forças!
Aline Rafaela Lelis
Em última análise, a conquista suprema é aprimorar significantemente a única posse que de fato temos: nossa consciência, nosso senso de identidade, nosso eu interior. Todo o resto por fim, foge de nós.
Bhaktivedana Swami Prabhupada, A. C. Em busca do verdadeiro Eu. São Paulo: Book Trust, 2016. p.07
Quem experimenta a solidão tem uma vantagem. Quando me sinto só, entro em contato com algo mais verdadeiro em mim. Algo que se assemelha a uma grande chama de fogo no vazio. Fogo estável, que queima eternamente em algum lugar de mim. Fogo que queima silencioso, que ilumina a vida e que sempre está lá. Não preciso me preocupar com o fato de estar só. Porque no fundo tenho a companhia dessa chama, que aquece todo o meu ser e me enche de vida. Há coisas muito mais sublimes para se pensar. A verdadeira missão é espiritual. O verdadeiro caminho sempre dá no Reino de Deus. Vivamos nossa espiritualidade. Não tenhamos medo do silêncio e nem da solidão. O fogo que nos habita e aquece o coração quer queimar sua matéria e fazer entendê-lo que a vida é um sopro divino. Que o amor é nosso combustível. Saibamos manter aceso o que fogo que habita cada um de nós.
Aline Rafaela