“Não Há Nada Mais Tranquilo Do Que Ser O Que Se Sente. E Poder Amar, Perder, Chorar, Depois Ganhar

“Não Há Nada Mais Tranquilo Do Que Ser O Que Se Sente. E Poder Amar, Perder, Chorar, Depois Ganhar

“Não há nada mais tranquilo do que ser o que se sente. E poder amar, perder, chorar, depois ganhar assim tão livremente”. 

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Fazia tanto tempo que eu não sentia nos olhos de um homem um olhar de interesse para dentro, para a alma. Estava tão acostumada com o desejo lascivo, a libido espontânea, o gozar de alívio, sem intenção de afeto; que quando vi nos olhos daquele homem tamanha afinidade e empatia eu não soube o que fazer, muito menos o que pensar. Eu passei do ponto em que a compreensão da afetividade obedece a uma regra social, institucional e ideológica. Não, não tenho tempo de fantasiar historinhas românticas. Definitivamente não há nada a fazer a respeito daquele olhar. A não ser esperar e ver o que o Universo preparou desse encontro. Seja lá o que o destino reservou, é sempre bom lembrar que todas as coisas tem seu próprio tempo. 

Aline Rafaela 

(Primeiro texto pensando nele)

AUTO-RETRATO FALADO

AUTO-RETRATO FALADO

Em 29.09.1989 eu vim ao mundo. Minha história é um feliz absurdo. Há quem observe a minha vida de longe e imagina que eu nasci assim, desconstruída. O jardim do outro é sempre mais florido né? Mas não. Tenho as minhas lutas e as minhas dores. Carrego minhas vitórias e meus desamores. Sou imperfeita como todo ser humano e escondo muitos sentimentos debaixo do pano. Quem me vê hoje, de cabelos curtos e impetuosa, pensa que eu sempre fui rosa. Mas a rosa um dia não foi semente? Não buscou solo fértil, água e luz para crescer? Comigo não é diferente. Embora tenha nascido na primavera, que é a minha estação preferida, trago no meu viver uma dor de rosas despetaladas, e tenho feridas que ainda estão sendo cicatrizadas. Meu caminho pelo mundo é uma história de superação. Superei cada não dessa sociedade racista e machista. Quem foi que disse que eu não era bonita? Quem foi que disse que eu não poderia estudar? Quem foi que disse que mulher pobre e preta tem o seu lugar?  Indagar o mundo foi a maneira que encontrei para não reproduzir cada resposta pronta que me davam, o famoso “infelizmente é assim”. Mas por quê? Quem disse? Esse meu jeito inquiridor me trouxe muita dor. Mas engana-se quem pensa que a dor não faz parte. Eu nasci para fazer arte. E venho vencendo cada desafio, com coragem e persistência. Minha vida é um ato de resistência! Quando liberto um grilhão, minhas ancestrais sobem junto comigo. O passado de exclusão e ignorância chega até a mim com a esperança de transformar cada dor e opressão  de outrora em amor e empoderamento. Quem está ligado na História sabe que esse é o momento. Por isso, meu amor próprio torna-se revolucionário, assim como a aceitação de tudo que um dia foi negado, minha cor, meus traços, meu cabelo, minha história. Meu caminho pelo mundo eu faço libertando memórias. Aceito e agradeço quem eu fui ontem, e me preparo para quem eu quero ser amanhã. Hoje sou mulher em transição. E talvez sempre serei. Aquela que explora toda sua força feminina para a criação do mundo que eu quero ser e ter. De cabeça erguida sempre, lutando a favor ou contra a corrente. Sigo sempre em frente, olho sempre para o alto e, quando me é oportuno, dou aquele salto. No meu coração trago a angústia de quem nasceu na era de aquário, de quem atravessou o portal da existência para tirar a verdade do armário e escancarar os valores obsoletos desse mundo atrasado.    A dor que trago comigo, já adquiriu status de elegante. Cada um sabe da dor que carrega, do peso que suporta, da alegria que transborda e da esperança que comporta. Da vida só espero viver. Viver consciente. Viver o instante. Saber que não estou morta antes de morrer, é o mais importante.

Aline Rafaela

Amor e desamor fazem parte de uma só face. Aquele por quem sofri é minha metade. Aquele que me amparou só vou deixar saudade. Neste jogo não existe culpado. A vida é que é cheia de surpresas e como nós reagimos não pode ser julgado. Cada um sabe de si. Cada um deveria saber sobre si. E ter consciência que nossas escolhas desencadeiam em fardos e fatos que só nós sentiremos na pele como lidar. No entanto, para que nossa breve vida valha a pena. O amor deve absorver em luz qualquer sentença.

Aline Rafaela 

A distância que aproxima,

Não posso explicar,

Saudade de pai.

Saudade de tudo nele,

Da pele preta,

Dos braços fortes,

Do seu coração macio,

Pronto para receber amor.

Saudade de quando pai pegava o carro,

E levava a gente ainda criança para conhecer algum lugar:

A cidade que nasceu,

Lugares que ele passou.

Sempre gostei desses pequenos passeios.

Não esqueço as estradas,

As casinhas simples de beira de estrada,

O rio correndo ao fundo do quintal e da casa abandona, onde dentro cresceu a goiabeira.

Lembro também de historias de preto velho

Silenciadas pelo medo, ou pelo respeito.

Ainda não descobri porque foram silenciadas

Mas pai e família de pai

Traz em si muita coisa que veio de além mar,

Historias de pretos africanos.

Pai fez crescer em mim o gosto pela viagem

A inquietude de quem busca conhecer o mundo

De quem busca na inconstância, sabedoria.

Ainda quero parar para ouvir suas historias de menino,

Os caminhos que percorreu,

As difíceis histórias que viveu

E que hoje ficam na memória,

De um homem que às vezes se parece triste,

Mas pai! quero viver para te encher de vida!

Realizar seus sonhos que a vida por algum motivo não permitiu que fossem realizados até agora,

Comprar-te um barquinho e uma casinha no mato,

Levar-te a lugares que o senhor não pensou estar antes

Ver-te sorrir e brincar com os netos,

Com a paz de quem não quer chegar a lugar nenhum,

Apenas imortalizar-se em nossos corações.

 Com todo amor do mundo,

Aline Rafaela Lelis

(Escrito em 11 de julho de 2015)

64 ANOS DE AMOR! O HOMEM QUE VERDADEIRAMENTE ADMIRO E QUE, ACIMA DE TUDO, MERECE A MINHA ADMIRAÇÃO.

(...) Os que sabem fazer fazem, os que não sabem fazer ensinam, os que não sabem ensinar ensinam aos professores, e os que não sabem ensinar aos professores fazem política. (...) O que essa frase quer dizer não é que os incompetentes têm um lugar ao sol, é que nada é mais duro e injusto do que a realidade humana: os homens vivem num mundo em que são as palavras, e não os atos, que têm poder, em que a competência última é o domínio da linguagem. É terrível, porque na verdade somos uns primatas programados para comer, dormir, nos reproduzir, conquistar e tornar seguro o nosso território. (...)

BARBERY, Muriel. A elegância do ouriço. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. pp. 56-57.

Amar significa entregar-se sem garantia, dar-se completamente na esperança de que nosso amor produzirá amor na pessoa amada. Amar é um ato de fé, e quem tiver mesquinha fé terá mesquinho amor.

FROMM, Eric. A arte de amar. 4. ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1964. p.121.

"A vida em seus métodos diz calma

Vai com calma, você vai chegar

Se existe desespero é contra a calma, é

E sem ter calma nada você vai encontrar"

(Canção de Di Melo)


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Clarice Lispector, No Livro ‘Correio Para Mulheres’. Rio De Janeiro: Rocco, 2018 Https://www.instagram.com/p/B_Bu5XLpH2I/?igshid=1klosx5jh6tms

Clarice Lispector, no livro ‘Correio para mulheres’. Rio de Janeiro: Rocco, 2018 https://www.instagram.com/p/B_Bu5XLpH2I/?igshid=1klosx5jh6tms

Carta à Maria

Maria, hoje foi mais um daqueles dias, que a gente tá com a cabeça no futuro e acaba esquecendo nosso presente duro. Sabe esses dias em que a gente foca na vida que devia ser e esquecemos da vida que temos? Para mim todo dia tem sido assim! Me disseram que nossos pensamentos criam nossa realidade. Eu juro que essa não é a realidade que pensei para mim há cinco anos atrás! Fui otimista, fiz tudo conforme manda o protocolo. Estudei as possibilidades, fiz um cronograma, coloquei no papel as metas, agi para alcançar os objetivos e morri na praia. Sem dinheiro e sem amor. Mas Maria, eu acreditei na ilusão de que estava no controle. Mas se somos responsáveis por tudo que acontece conosco. Como criei essa realidade? E agora, nesse exato momento, como estou criando o meu futuro? Eu não faço ideia. Não sei mais no que acreditar. Estamos no controle ou não estamos? Só sei que essas experiências me fazem pensar que não. Não estamos no controle, não da forma que gostaríamos de estar. Estamos num caminho, seguindo uma direção, uma estrada que converge para Luz. Estamos aprendendo a ser melhores. Não vivemos o que queremos, mas o que precisamos e merecemos. A ideia é aprender o amor. Estamos todos aprendendo a amar incondicionalmente. Mas olha a loucura que o mundo se encontra! Manter a sanidade é um luxo, não enlouquecer é um privilégio, seguir até o final, suportando todos os pesos, medos, decepções é só para os fortes. De vez em quando eu duvido da minha fortaleza, e juro que suplico por moleza. Mas a vida não é oba oba. A vida não é uma série de televisão. Não é diversão. Não é o que a gente vê no GNT ou OFF. A vida de quem é perfeita como na televisão? Quem come aquelas comidas e viaja para lugares incríveis que a gente nem nunca ouviu falar? Meu Deus quanta loucura! O que vejo na real é tanta miséria, gente sem dinheiro para o pão. Crianças com fome de sobremesa, olhos grandes olhando para o cornetto da jovem que passa do lado de lá do ponto. A mãe tentando distrair e a criança arrisca a pedir. A mãe lamenta, dinheiro contado, e lá se vai mais um desejo simples não realizado.

Maria, a vida aqui me aterroriza, estou desconectada com a minha alma, vim para uma missão nobre, todos nós viemos, mas estou distraída demais tentando ter sucesso, tentando não ficar para atrás. Tentando alcançar meus colegas doutores. Não tenho coragem de voltar para mim e aceitar a minha simplicidade. Fiz esse tal de Instagram e parece que todo mundo está fazendo algo importante. Minha vida simples parece tão desinteressante. Estou vivendo como uma morta-viva. Meu coração está um gelo, e nem é o frio do inverno que deixa meu peito gelado. É falta de abraço. Falta de acalanto, de olhar nos olhos, de fazer cafuné e deitar no colo. Tudo que eu sempre quis foi poder pagar meu próprio aluguel, criar gatos, pintar quadros, cantarolar manhãs, fazer biscoitos, bolos, fumar um cigarro e conversar com quem faz questão. Olha para mim agora Maria! Não sei quem sou, estou competindo com quem? Estou tentando ser sucesso para quem? Por que ando partida? Olhar que não seduz, corpo que se arrasta, medo que paralisa, sorriso que disfarça dor. Para quem são os livros que leio? Qual foi a última vez que habitei a mim? Quando deixei de ser eu? Quando ergui uma barreira entre mim os braços calorosos dos meus progenitores? Quem são as pessoas a minha volta? Quantas delas já não estão como eu? Mortas! O que fazer para acender a chama? Correr o perigo natural de quem se permite viver? Como devo proceder, o que devo abandonar?

Maria, hoje foi mais um desses dias de coração frio, mente apavorada, olhos buscando cor, peito pedindo calor.

Mas Maria, passei na Igreja e acendi uma vela, fiz uma prece e estou esperando o milagre. O que me deixa de pé, é que eu ainda acredito em milagres.

Aline Rafaela Lelis

Nota de Celular- escrito em 25 de julho de 2019

  • leonardoesgalbo
    leonardoesgalbo liked this · 8 years ago
  • fidelidadeaalmaeosegredo
    fidelidadeaalmaeosegredo reblogged this · 8 years ago
fidelidadeaalmaeosegredo - Preserve a Alma
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