Não é que eu queira vingança. Eu apenas quero justiça. Te encontrar daqui uns tempos, um ou dois anos talvez. Eu linda, vestida de ouro, pele reluzente, cabelos macios e um sorriso branco. Quero sim estar impecável. E quero que me veja com meu novo amor. Não, não pense nele. Pense em mim, meu novo amor sou eu. E quando me ver assim lindamente leve e radiante, quero que veja a mim novamente. Doce, suave e paciente. Quero que sinta essa Oxum, que hoje navega sobre águas calmas. Quero que me veja e me reconheça, e quem sabe possa você sentir lá no fundo amor. Me deixa ir com meu amor próprio e com o amor do meu novo companheiro. E se pergunte onde foi que tudo acabou. Quero que saiba só de olhar; que para “nós” não haverá mais chance, e sinta o que eu senti quando você disse disse é o fim. Que a sua consciência do fim o faça ir na lua e voltar por um segundo. Depois vá tomar uma bebida forte e continuar fingindo que eu não faço falta na sua vida pelo resto dos seus dias.
Aline Rafaela
(Fragmentos em papel toalha, Out/2016)
Há tanta verdade nos olhos castanhos esverdeados daquela menina, que Deus! Quanta alegria sinto ao ler as palavras que ela escreve com aqueles olhos de verdade, porque sua escrita é a forma que ela olha o mundo.
Aline Rafaela
Praça, damasco, coreto
O centro da vila pacata
Em movimento lento
Há onze anos já foi palco
Do primeiro amor
Há um ano serviu apenas
Para endurecer corações machucados
Há poucos meses virou cenário
De um filme em preto e branco.
A vila, hoje cidade
Anda em círculo na existência
E dessa roda eu desviei
Meus pensamentos e lembranças
Um salto me levou
Para outras rodas existenciais
E lá não tem espaço para lembranças vis
Lá estou em trânsito
Com gente indo e vindo.
Onde me encontro agora
Tudo tem mais equilíbrio
E o passado é só uma velha roupa colorida.
Aline Rafaela Lelis
A fortuna suprema do homem é a paz da consciência pelo dever cumprido.
Emmanuel (Espírito). Paulo e Estevão: episódios históricos do cristianismo primitivo: romance/ ditado pelo espírito Emmanuel; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. 40. Ed. - Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2004. p. 674
Saudade de quando eu não sabia nada, e não saber só me levava a sentir. E sentir era a única forma de chegar a verdade.
Saudade de quando minha presença bastava por si só, e eu estava no mundo. Mas não fazia parte dele. Era capaz de tudo abstrair. E me sentia em paz em qualquer lugar.
Saudade de quando amar era a condição da minha existência e de quando bastava olhar nos olhos para ver a verdade das pessoas.
Saudade de quando meu coração ainda não tinha feridas, e então, entregá-lo de mãos juntas me fazia sentir ainda mais viva.
Saudade de quando eu ainda percebia o mundo com a inocência de uma criança.
O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes.
Cora Coralina
Adoro gente que não sente necessidade de preencher o silêncio dentro de um espaço-tempo. Gente que sabe que o silêncio não precisa ser incômodo. Gente que acredita no silêncio como forma de obter paz.
Aline Rafaela Lelis
Somos assim, mesmo cortadas e aparentemente sem vida, nossas raízes estão trabalhando para que possamos renascer. O renascimento pede paciência, o broto só vingou depois de muito trabalho das raízes. Lento, no seu tempo. O tempo de espera é bom, a gente vê que a corrida pela qual estávamos empenhados não faz sentido. A busca é sempre por si mesma. Ser o seu potencial criativo. Sentir a existência de maneira leve. Ignorar o que não é essencial. Nascemos muitas vezes. A cada nascimento permita-se ser fiel à sua verdade. Sinta o seu coração pulsar. Sem pressa! A vida não é nada do que te disseram e nada do que você aprendeu todos esses anos. A vida é mais, Deus é mais e você preso a desejos e medos que nem são seus. Ouça seu coração. Em você reside todas as respostas que procuras.
Aline Rafaela Lelis
Escrito em 13 de novembro de 2019.
Todo mistério de terra, oceano, céu e vulcões. Todo mistério do Planeta e você é só mais um. Um lindo mistério assustado diante desse mundão, assustado diante do espelho. Ser algo incompreensível e indizível. Devíamos todos falar através do silêncio. O mundo todo precisa de silêncio. Viver é completamente solitário e temos que aprender a ficar confortáveis na nossa própria solidão. Esse é o aprendizado. Mal sabemos lidar com nossas emoções e sentimentos. Criamos ciências para explicar tudo. Inclusive a nós mesmos. Mas ainda assim a vida continua um enigma. A morte também. Estamos aqui agora, mas sinto que carregamos muitos vestígios de outros tempos. Dessa vida e de outras. Nós somos uma herança cósmica.
Aline Rafaela
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