“Então você pode ficar aí, me amando do alto do seu pedestal.”
Eu mal sabia que minha última tentativa, antes de, por fim desistir, por concluir tamanha estupidez e ridicularidade, esta minhas mesmas palavras o fariam ver-me como uma farsa, tal qual nunca fui, não com você. O único.
Seria possível? Isto fazia de mim uma tola? Por fantasiar tantas coisas, todas elas onde você se encontraria ao meu lado, independente do que quer que estivesse fazendo. Inicialmente cogitei ser egoísmo, mas depois me aliviei da ideia de que se o fosse, pagaria qualquer preço para que eu obtivesse nem que fosse o mínimo, o mínimo sorriso, o mínimo oi, o mínimo vislumbre de andar e olhar, o mínimo de existência que eu pudesse presenciar de você que me mantinha assim, viva e tão certa de que eu respirava para contemplar outra força da natureza qual sobrepunha a minha própria. Engraçado pensar que, bem antes mesmo de declarar inverdades sobre mim, eu mesma já havia cedido sem o conhecimento de que isso fosse possível. — b.m
Sou ampla e pesada. E você, pequeno. Em mim há uma profundeza e nela possui uma bagagem e tanto. E você, raso, aparentemente forte, mas fraco. Talvez me aguente transbordando por mais alguns dias, ou minutos. Mas não por uma vida inteira.
Não, não, muito cafona, apesar de sempre ter tido certa habilidade para breguices…
Nunca soube direito como se inicia um diário. Menos ainda como se começa com aquele clichê de “querido diário” — soa como se eu escrevesse para alguém, quando na verdade escrevo para mim mesma, sobre ele, é claro. Deixe-me tentar outra vez.
Querida eu, que insiste em complicar o simples…
Deixei de ser a menina dos olhos dele. Ele não disse com palavras, mas sempre tive esse talento questionável de ler silêncios e preencher as entrelinhas — um hábito cultivado que, supostamente, deveria nos proteger de corações partidos. Engraçado, não tem funcionado muito bem, confesso. Eu sei. Talvez ele também saiba. A verdade é que nosso amor se amansou. Virou aquela calmaria confortável, como a brisa fresca das manhãs que se alongam preguiçosas, com o cheiro do café recém-passado e o silêncio doce de quem aprendeu a gostar do tédio da solitude. Nosso amor, querida eu, tornou-se isso há tempos. E eu ainda teimo em chamar de amor, pois é o que sinto. Quanto a ele… talvez reste um carinho morno, uma consideração educada por tudo o que vivemos. Às vezes até, ouso pensar que o que sobra é só conveniência, talvez comodismo. Por que é isso que as pessoas fazem, não é? Voltam ao que conhecem quando a vida se torna vazia demais… ou insuportavelmente cheia. Extremos. Sou o ponto de conforto dele. E nós duas sempre achamos isso bonito, não é? Sei que você está aí, sorrindo de canto, se deliciando com a ironia, achando graça dessa nossa mania de ver poesia na melancolia. Para alguns, ser o lugar seguro de alguém pode parecer desolador, como se você deixasse de ser alguém e se tornasse apenas uma função, mas não para nós. Existe algo genuíno e poderoso em ser o que quer que ele precise. (Querida eu safada, por favor, não malicie essa maldita frase). E assim seguimos…
Pensei em escrever para Chico e Zé, perguntar o que diriam sobre esse amor tão plácido, tão… contido, para que me ajudassem a colocar em ordem essa serenidade de amar o que já não queima, mas, no fundo, sei que só estou escrevendo para mim, o que futuramente entenderei como uma carta de rememoração sobre o sentimento do que foi, o que ficou, o que mudou — e, talvez, exorcizar esse tolo medo do que ainda pode ser, enquanto peço baixinho, feito prece sussurrada para um santo que não sei o nome, que de algum jeito, nós nunca deixemos de ser a menina daqueles lindos olhos — os mais belos olhos que já vi: os dele.
— b.m
ㅤEu te pediria desculpas por esse texto só pela sua cara de desapontado, mas não costumo me desculpar por ser sincera – a sinceridade é meio escrota de vez em quando, eu sei. Mas, você sabe, a verdade é sempre bem-vinda, embora algumas vezes – como agora – não passe de uma filha da puta. Senta aqui. Eu também já levei um pé na bunda. Eu disse que ele não estava preparado para uma mulher como eu. Você sabe, ele se boicotou. Essa gente tem medo de ser feliz. Depois eu pensei que ele talvez estivesse numa fase confusa ou tivesse problemas pra se relacionar. Talvez ele tivesse câncer terminal e não quisesse me machucar. Ou uma ex-namorada que me mataria se me visse com ele. É claro que ele só queria me proteger. Bem, no fim das contas, ele tinha outra. Era essa a dura e inadmissível realidade. Não havia nenhuma justificativa prévia, nenhuma explicação mirabolante: ele simplesmente não me queria. Era só um pé da bunda. Era só um cara me rejeitando do jeito mais miseravelmente simples do mundo. Então, ela também não se boicotou. Ela não está chateada porque você foi um imbecil indiferente naquela sexta-feira. Ela não está te ignorando só porque você esqueceu de parabenizá-la pessoalmente no aniversário dela. A verdade – que deve ter socado o seu estômago no exato momento em que você a descobriu – é que ela não dá a mínima. E tudo bem. Você deve saber que isso não é exatamente um atestado tácito de que você é um partido ruim – aliás, fodam-se os bons partidos. As pessoas se cruzam, se amam, se detestam ou simplesmente permanecem indiferentes e isso não é um problema nosso. É questão de conexão, do bom e velho desejo mútuo que nem sempre dá as caras. E a gente continua mascarando isso com frases clichê que até poderiam fazer parte de um “Manual de como não ser imbecil ao dispensar alguém”: “A pessoa certa no momento errado”, “Não é você, sou eu!”, “Não quero me envolver com ninguém”… Tudo isso é ladainha – uma ladainha muito elegante, confesso – de quem simplesmente não está a fim de tentar. Não existe momento errado para a pessoa certa. A vontade é que move as coisas – e as pessoas, principalmente. Então, quem não te procura simplesmente não quer te procurar, e quanto mais cedo você parar de criar teorias mirabolantes que justifiquem isso, mais cedo você estará pronto para o próximo pé na bunda – você sabe, ele sempre vem.
obrigado por deixar eu me apaixonar por você, sei que não fez por querer, mas fez, e o que conta é o corpo indo dormir querendo saber das músicas que você anda ouvindo, e tá tudo bem, pois um novo nome nos pensamentos tem feito os dias mais leves, me deixando ver formas de animais em nuvens que até outro dia eram apenas nuvens, mesmo que a paixão seja coisa minha. aliás, acho ótimo que seja somente minha, ela faz um par perfeito com a solidão, é lindo o encontro, as duas passam a noite brincando de fazer poesia. e todas, absolutamente todas, são para você.
Oh, you fill my head with pieces of a song I can't get out!
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