““É isso que eu gosto em você, seu realismo, sua espontaneidade, sua falta de modos. É isso que eu acho bonito numa pessoa, você vive sua vida, aceita suas limitações, não dá muita bola para o que os outros vão achar de você. Às vezes eu acho as pessoas tão igualmente diferentes, sempre pendurando arengas no pescoço e fazendo um esforço tremendo para parecer legal. Você é você. Estou certo que existem almas formidáveis por toda a cidade, mas se eu fui gostar logo de você, isso quer dizer alguma coisa.””
— Gabito Nunes.
Venho tendo aqueles malditos sentimentos de novo, K.
aquele desconforto horrível dentro da minha própria pele. a vontade de ser qualquer coisa que não seja eu, é gigantesca.
você sabe, eu lutei muito pra chegar até aqui. pra ser quem eu me tornei. mas, de repente, uma bola de neve me trouxe novamente ao mesmo ponto de partida.
eu quero fugir de mim mesma à todo momento e afastar de todo mundo que chega perto demais [sinto como se fosse tóxica].
a vontade de permanecer deitada, o dia todo, nasceu dentro de mim novamente. junto com aquele desejo imbecil de me ferir pra ver se de fato ainda sou real. pra ver se consigo sentir qualquer coisa que não seja isso.
as crises que haviam desaparecido, estão cada vez mais frequentes.
no meio disso tudo, não consigo enxergar ninguém. ninguém que de fato se importe. e pra ser bem justa nem sei se eu me importo com isso.
tudo voltou a me ferir de maneira arrebatadora e cruel.
os poemas, voltaram a ser tristes.
[o amarelo, tem se tornado preto].
e a vontade de falar com as pessoas, se reduziu à zero.
eu não sei se consigo sair dessa novamente, K. uma vez já é uma vitória em tanto, e sei que sabe disso.
ninguém sabe dos fantasmas que vem me visitar tarde da noite. ou ainda das dores que gritam nos meus ouvidos às três horas da tarde.
eu não sei por quanto tempo eu vou aguentar sentir tudo isso.
eu tento permanecer boa. e por Deus, é a única coisa que peço todo dia antes de dormir.
eu tento permanecer intacta aos olhos de quem me vê. e ninguém faz a mínima ideia do quanto isso tem doído.
eu sei, dias melhores virão, eu acredito fielmente neles. só não sei se estarei aqui para vê-los.
o desconforto de ser [ou não ser] não cabe mais no meu peito.
e talvez seja por isso que ele escorre por essas linhas agora.
meu corpo grita o tempo todo, cada hora de uma forma diferente, pedindo um pouco de arrego. [paz]
mas o peso de tudo que carrego se tornou tanto, que às vezes
ou quase sempre
nem dá pra respirar.
“Sou intenso demais. Amo sem medidas, me entrego por inteiro, me jogo de cabeça, mesmo que eu saiba que vou me quebrar por completo. Sou muito, e ás vezes, um nada. Alimento meu coração de esperanças e permito que ele caia no meu amontoado de ilusões. É … Não consigo fazer rodeios quando se trata da minha felicidade.”
— Jhonata Riscovisk.
Stephen King Trade First Editions (Updated).
“Odisseia sentimental. Não sinto sofro, sinto sofro mais ainda. Tanta contradição nessa nossa parte subjetiva que nos torna humanos, nós temos sede pelo sentir, ânsia pelo sofrer. Nós nascemos pra dar errado, eu, você o homem que acaba de passar na rua, todos temos dores obscuras guardadas, dores que fazem parte de nós, que correm nas veias de tão nossas, virou DNA. Mas além de tudo está no nosso sangue sentir. Somos seres racionais, mas o que nos torna tão fascinantes é essa coisa obscura e irracional chamada sentimento, pois sentimos, logo ficamos irracionais e nossa razão procura cada vez mais isso, parece querer ceder seu lugar a doença amor e por vezes é tão tentador que a submersão total nesse oceano insano de perdição sentimental parece a única saída para tudo. Mas a gente esquece que pode se afogar, que pode não conseguir nadar até o outro lado ou ter uma câimbra inesperada no meio da pedição, o que pode ser fatal, pois não depende só de nós mesmos, é preciso ter uma mão que nos puxe para que não nos afoguemos, que ajude a chegar do outro lado ou ainda esteja ali na hora da câimbra, é preciso ter a metade da laranja, do limão, do coração, ou da pangeia para que ao menos uma vez na vida atinjamos a total falta de lucidez. Há quem diga que amor não existe, mas a partir do momento que o sofrimento bate a porta o amor já esteve querendo adentra-la.”
— Simone Ribeiro.
Claro Enigma. Carlos Drummond de Andrade. pág. 27
Me sinto árvore… Fincado ao chão criando raízes pelos ossos e veias, cada vez mais pesado e imóvel. E vejo de longe, dentre as folhas do meu cabelo, casais em.pouca distância se amando como se fosse o último dia de suas vidas. E sinto sede, cobiça, zelotipia, invídia porque árvores não amam. Amam apenas a terra que sinto gelada em meus pés. Amam o vento que se por descuido eu fechar os olhos me imagino livre a ponto de poder correr. Amo a chuva que me lava, que percorre cada átomo do meu corpo e parece levar toda a minha sujeira pra longe. Amo os pássaros que andam pelo meu pescoço e cantarolam Mozart ao pé de meu ouvido fazendo acender cada poro de minha casca como as flores se acendem na manhã de primavera. Amo as marcas e cicatrizes em meu tronco causadas por amantes sedentos em deixar registradas suas marcas e paixões, causadas por crianças que almejam no futuro voltar adultas para comentar sobre o dia em que me marcaram depois daquele piquenique. Marcas causadas por mim. Não lembro o quando, nem o porquê e nem o como. Árvores não amam e nem escrevem. Floreiam.
O Caffè Florian, em Veneza, 1965. Prefixos.
O que eu fui, já não me veste mais...