Na primeira doação perdi o chão. Na segunda o coração. Na terceira perdi a cabeça. E depois de perder tudo, aprendi que era preciso eu fazer mais por mim, muito mais... Então mudei o padrão. A minha atenção é para mim, o meu amor sou eu e o meu amigo é Deus. Com essa atitude, voltei a ter chão para pisar, recuperei o coração e a cabeça estraçalhados. Hoje, só tenho uma certeza: morro de amores por mim. Amo-me incondicionalmente. Aceito-me, incentivo-me. Cuido do meu corpo e do meu espírito. Aprendi a integridade, o amor de verdade e o valor de dedicar-me a mim mesma. Com isso, um novo horizonte se abriu à minha frente. Hoje não espero nada de ninguém. Amor é para quem tem. Curto estar sozinha, na minha companhia. Respiro fundo e em paz na minha presença. Nunca mais serei ausente de mim, não importa às circunstâncias. Fidelidade à alma é o segredo.
Aline Rafaela
Eu sempre espero algo mais da vida. Dificilmente tenho momentos que bastam por si só. Estou sempre querendo algo mais da noite, da despedida, de uma canção. Vivo em estado de êxtase, como se o próprio viver fosse um vício, e eu precisasse sempre de outra dose de tudo. Só para sentir no peito a delícia de estar vivo e o delírio que é viver em busca de si mesma. E quando penso que estou quase perto, algo em mim foge e se esconde, e a busca nunca finda, nem descansa.
Aline Rafaela
Nota de Celular, 24/04/2016
Do solo brota muito alimento, mas, apenas para o corpo; para a nutrição do espírito é necessário abrir as possibilidades de nossa alma para o Alto e contar com o amparo divino.
Emmanuel (Espírito). Paulo e Estevão: episódios históricos do cristianismo primitivo: romance/ ditado pelo espírito Emmanuel; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. 40. Ed. - Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2004. p. 512
Quanto mais te leio, mais gosto de você.
Quanto mais convívio, quanto mais perto, mais distante estou da expectativa de que um dia você seja tudo que sempre sonhei.
Você é o que é e isso é fascinante.
Talvez seja o primeiro amante que eu vivo do que é real. E o real se apresenta como se bastasse em si mesmo. Quando eu lidava com expectativas, nunca era suficiente.
Hoje eu me basto e você, assim do jeito real e verdadeiro que se apresenta, também.
Acho que comecei a abalar as estruturas do amor romântico dentro de mim e tenho descoberto o quão lindo é amar em liberdade.
Aline Rafaela
Eu guardo segredos de amora e pitanga no tempo e tenho desejos de quintais cheios de fruta, anjos e melodia.
Aline Rafaela
Painting of the Queen Nina Simone
PROCESS VIDEO : https://www.youtube.com/watch?v=vrmpAl-q0o0
“Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro. “
Tem tristeza que quando vem à tona, faz doer meu corpo inteiro. Começa no coração e termina nas pontas dos dedos. Tristeza assim, faz as lágrimas saltarem dos meus olhos e não importa onde estou, perco noção de tempo e espaço. Por instantes tudo perde o sentido, e a vontade que tenho é de me fundir ao infinito, perder a forma e evaporar no vazio para ver se a dor finda.
Aline Rafaela Lelis
O clamor por alguém traz sempre qualquer pessoa errada, pela qual jamais nos apaixonaríamos se estivéssemos sãos, tranquilos e felizes conosco, não pedindo pela aventura ou pelo veneno. Quando se tem equilíbrio não nos apaixonamos. O veneno anti-tédio, anti-marasmo, anti-morte, anti-infelicidade é falso. A paixão é vista como o antídoto para a morte em vida.
MATA, Vanessa da. A filha das flores. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 84
(Canção de Di Melo)
Tião é Sebastião. Herdou o nome do pai, homem trabalhador, cor de mel, nascido em Minas Gerais em 1930. Do pai herdou o nome e a tristeza, que para essa gente preta e pobre do interior é inata. Os olhos de Tião são dispersos, viajam longe, como se ele nunca estivesse no presente. A simplicidade vem nos gestos, no jeito manso de se expressar, incapaz de fazer mal para alguém. As palavras são ditas com certa insegurança. Tião é homem de pouca informação, mas muita imaginação. Sua voz é rouca, seus cabelos e barbas brancas, revelam a idade. Um homem que cresceu em meio as violências domésticas e da vida. Violência é a palavra que define sua trajetória. Violências das mais diversas, físicas e psicológicas. Uma vez Tião me confessou que quando criança adorava matemática, mas logo depois completou dizendo manso e paciente: “mas naquela época gente pobre não estudava”. Tião não casou, não teve filhos, e ainda mora na casa que os pais deixou, há cerca de quarenta anos ou mais. Ele mora com os irmãos e uma irmã, que assim como ele tiveram uma vida sofrida. Outro dia Tião foi encontrado na rua, bêbado, sem condições de sustentar o próprio corpo. Uma sobrinha o viu naquela situação e buscou ajuda. Pensou que estivesse sofrendo um ataque cardíaco, um infarto ou derrame. Mas Tião, que tem pressão alta, bebeu dois copos de pinga no dia do seu pagamento, e a bebida subiu de tal jeito que ele não suportou. Poucos dias depois do ocorrido Tião procurou a sobrinha para se desculpar, sinal de humildade inconfundível, disse a ela que ele sentia muito pela vergonha que a fez passar e que havia tomado dois copos de pinga para ver se a dor passava, porque há anos se sente angustiado. Tião é chamado pelos familiares e conhecidos de Tiãozinho. Tião é muito sozinho. Olhos carregados de tristeza e frustrações. Olhos que olhamos em estado de contemplação e reflexão. Olhos que nos transporta para dimensões outras da vida, uma dimensão onde não há materialidade. Os olhos dele é mar e é rio. Há pessoas cujos olhos estão sempre marejados, como os do Tião, que parecem estar sempre segurando o choro, porque sabe que se deixar rolar as lágrimas podem nunca cessar e molhar todo o corpo ferido, das pernas ao coração. Quando Tião se desculpou com a sobrinha, deixou uma lágrima escapar, não que ele quisesse. Foi apenas uma lágrima teimosa que insistiu em escapar. Como Tião, há milhares dessas pessoas no mundo. E eu sempre me pergunto onde a humanidade foi parar. Sempre que olho nos olhos das pessoas é possível encontrar a verdade delas, e foram poucas as vezes que eu consegui enxergar pessoas em estado de plenitude.
P.S. “Tião não sabe, mas eu o amo!”
Aline Rafaela Lelis