Ele não é muito de palavras, e isso é bom, porque tenho aprendido que atitudes são muito maiores que discursos, e que ações são infinitamente maiores que promessas. Que bom que ele apareceu assim, silencioso, sem alarde, sem enfeites. Ele não ensaia intensidades, não dá para trás, não se deixa levar pelo medo. Na verdade, ele tem plena consciência que o medo faz parte. E se entrega com tanta verdade, e mergulha com tanta vontade... Ah... e o que dizer quando ele vai fundo...
Esquecemos do mundo e nos abraçamos profundo.
Aline Rafaela
“As pessoas mais próximas condicionam seus resultados. Outras pessoas podem influenciar as suas manifestações, elas interferem com aquilo que você está tentando atrair para a sua vida. Por isso, toma muito cuidado com quem você compartilha seu tempo. Seja produtivo, criativo, e se sinta sempre em paz consigo mesmo”.
Desde criança a vida me ensinou a ser forte
Dez anos de idade e sem poder contar com a sorte
Senti a mão da mulher branca no meu peito
Ela dizia: “Quem você pensa que é negrinha?”
“Perdeu o respeito?”
Num gesto brusco indicando: Pare!
A mulher continuou o dispare:
“Daí para frente você não vai mais”
“Só as crianças brancas podem entrar”
Naquela ocasião, lembro-me bem
Era uma excursão escolar
O nome da mulher?
Cleuza Nogueira Araújo
A professora do gesto absurdo
Minha mente de criança
Assimilou o gesto de Cleuza
Da pior forma possível
Entendi com aquele gesto
Qual o meu limite para a vida
Se for para ir mais um pouquinho
Entrada proibida
Cresci atenta ao limite
Daqui eu não posso passar
As mãos de Cleusa no meu peito
Fez-me entender meu lugar
Aos 13 anos de idade fui trabalhar
Pai peão, mãe dona de casa
Oito filhos para cuidar
Pajear crianças brancas
Era o único jeito de a minha família eu ajudar
Meus estudos, meus sonhos
E aquele vestido azul com laço
Estavam do lado de lá da linha
Fora do meu alcance
Em outro espaço
Foi aos 10 anos de idade
Que aprendi com uma professora
Que minha vida seria sempre do lado de cá
Da fronteira
Levando porrada na trincheira
Aos 15 anos me casei
Fui promovida de babá
A esposa e empregada doméstica
Sempre sabendo meu lugar
Por que aos 10 anos
Aprendi aonde posso ir
E onde posso entrar
E eu entrei na vida do avesso,
Meu apelido é “Dadá”
A única coisa que me disseram
Quando vi ao mundo foi:
“A vida pra nossa gente é dura
Você vai ter que se virar”
Eu me virei do jeito que sabia
Doei a minha vida
A quem não podia
Sequer me enxergar
Dadá vêm de da-da, doa-da
Investi a minha vida à doação
Doei meu sorriso
Doei meus sonhos
Doei meu tempo
E até meu leite
Servi contente
Para manter os dentes
Àqueles de olhos quentes
De autoridade em chamas
Atentos aos meus passos:
“Dadá, não limpou os meus sapatos?”
“Hoje você não leva as sobras do jantar”
A chama da vida
Que havia no meu peito,
Congelou aos dez anos de idade
Quando Cleusa colocou a mão
Naquele corpo pequenino,
E com um gesto simples e castrador
Ensinou-me meu lugar no mundo
Entendi que nessa vida
Seria impossível realizar
Meus desejos mais simples
E profundos
Hoje, aos 75
E uma vida inteira de doação
Ainda posso sentir aquela mão
Sobre o meu peito
A inocência de acreditar
Que aquela excursão seria
O dia mais perfeito
Ainda arde e queima
Recordo-me de mamãe
Sempre muito caprichosa
Dizer orgulhosa:
“Lavei e quarei o seu uniforme,
Mais tarde vou lá na Fatinha
Vê se ela me empresta
Um pedaço de sabonete
Amanhã você vai cheirosa
Para escola, que é pra professora
Não botar defeito”
Mamãe de quebra
Assou-me um bolo
Em uma lata de sardinha
Mal sabia ela
Que de nada ia adiantar
Sua filha alimentada e
Limpinha
Se aquele não era o meu lugar
Na cadeira que descanso agora,
Balançando para frente e para trás
Te conto olhando nos olhos
Minha história tão mordaz
Leva menina,
Leva essas histórias para o mundo
A voz que tu ouve no coração
É a voz de uma legião
De homens e mulheres humilhados
Esperando cura e alivio
Nas palavras de corte e veludo
De uma geração de iluminados
Conscientes do passado e do legado
Geração que entende a importância
De reverenciar seus antepassados
E garantir que nossa história seja contada
Que a justiça seja feita
Mesmo que simbólica
Mesmo que imperfeita
É assim que é a vida
É assim que é a história
Promessa de continuidade
Reverência à memória
Daqueles que sonharam
Suas vidas com mais dignidade
Aline Rafaela Lelis
Escrito em 02 de maio de 2019
A recomendação é persistir. Acreditar na própria voz, ignorar quem encher o saco e persistir. Não só na escrita, mas em si mesma. A gente costuma desistir da gente muito fácil.
Rayane Leão.
A energia necessária para realizar nossos desejos não pode fluir livremente se ficarmos obcecados com os resultados materiais determinados por nós. Sempre que pedir alguma coisa, tenha em mente um bem maior. Depois, desapegue-se e deixe Deus fazer Sua parte.
PRAAGH, James Van. O despertar da intuição: desenvolvendo seu sexto sentido. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. p. 160.
Somos sujeitos com tantos desejos. Dos mais sublimes aos mais vis. Meus desejos são nobres (a maioria das vezes). Desejo de viagem, de conhecer o mundo. Ásia, África, América do Norte. Também desejo ser doutora, atriz, modelo e cantora. De vez em quando minha intenção de bondade entra em colapso. Questiono Deus, me falta a fé, chuto o balde. Mas são momentos apenas, passam e em instantes eu me reformulo novamente e tomo o caminho estreito, a estrada direita. Com o passar dos anos vou compreendendo que a vida é sofrimento e, aprender a viver é aprender a sofrer. Só quando aprendemos a lidar com a dor é que alcançamos a felicidade.
Tanto desejo às vezes causa desgaste. A avidez para vivê-los é a causa das nossas ansiedades. Queremos que tudo aconteça agora, casa, carro, filhos, casamento, família, sucesso e dinheiro. O reino da terra faz a gente criar muitas ilusões, faz a gente se perder de nós mesmos, distanciar dos nossos propósitos mais elevados, nos faz perder a trilha do bem para entrar na corrida dos vícios mais vulgares. Uma corrida maluca para o inferno. Inferno que fazemos em nós mesmos e à nossa volta.
Aline Rafaela Lelis
Será que o amor não é tão-somente vontade de amar?
Fabrício Carpinejar
“(...) O que somos hoje também é muito do que nos permitimos esquecer (...) Há coisas que já não nos servem mais, e nada me tira da cabeça que deixar as coisas, simplesmente, tem sua beleza. Seu tom de vitória. E o mais importante: seu tom de verdade com um tipo de eu que é sincero a si mesmo. (...) Há coisas que, por mais bonitas que sejam, devem ter um fim. E isso é ótimo. Como encontraríamos espaço para experiências novas, se não deixássemos as antigas no passado já vivido? Nostalgia é bom, uma vez por ano. De resto, vamos viver o que nos é dado hoje. Ser assim, pra mim já basta.”
Texto escrito por Keroll há 2 anos.
O vazio tem o valor e a semelhança do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é resposta a meu mistério.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. p. 14