Meu bem, se disser que vem. Venha! Cada sim que você diz para essa mulher de ar soa como promessa. Então muito cuidado! Venha! Ainda que morto, ainda que cansado, ainda que não esteja neste planeta. Mande um avatar. Faça um layout. Mas venha! É que apesar de compreender racionalmente sua ausência, minha emoção fala mais forte. E como eu queria ter te entregado hoje o chocolate que comprei dizendo “obrigado”. E ouvir canções atrás de canções que você canta tímido, embora afinado. E olhar seus olhinhos apaixonados e brilhantes. Justo hoje, que você prometeu não mensurar seu desejo lascivo. Justo hoje que você prometeu seu melhor beijo e o abraço mais sensual.
Meu bem, quando disser que vem. Venha! Porque essa mulher de ar precisa de terra para espalhar, para se embrenhar, para namorar.
Notas de celular (Segundo texto para ele).
Busquei tanto por conhecimento, e no final das contas descobri que todos os caminhos me levam a ignorância.
Apostei tanto na ideia de revolução, e no final das contas descobri que o máximo que podemos fazer pelo mundo é mudar a nós mesmos.
Entre idas e vindas, descobri que o melhor lugar para acomodar confortavelmente o coração é no seio da família.
Entre ficar e partir, decidi ir atrás do que realmente vale a pena.
Entre Deus e a ciência, decidi jogar fora anos de estudos da realidade do homem no tempo para adentrar o mistério da fé numa existência atemporal.
Entre o perdão e o esquecimento, apostei na minha capacidade de absolvição, permitindo assim a expansão da consciência e a elevação do espírito.
Entre desistir e continuar, decidi seguir em frente, porque hoje, mais do que antes, sei que Tudo Posso Naquele Que Me fortalece.
Aline Rafaela
Painting of the Queen Nina Simone
PROCESS VIDEO : https://www.youtube.com/watch?v=vrmpAl-q0o0
Oração
Enquanto aguardava o ônibus na guarita, percebi que estava no meio de uma estrada e que dois homens me observavam invasivos e sedentos. Talvez esperando qualquer “sinal” meu que eles pudessem interpretar “essa aí tá pedindo”. Eu comecei a ficar nervosa e angustiada. Os dois me olhavam e conversavam entre si. Enquanto isso, os motoristas que passavam em suas carretas gritavam qualquer coisa, “cantada?”. Foi então que comecei a pensar em todas as mulheres que talvez, naquele momento, estivessem passando pela mesma situação, com medo, sentido-me culpada antecipadamente por um crime que sequer havia ocorrido. Eu pensava: “Se aqueles homens que me observam há um metro de distância ou qualquer homem que parasse seu automóvel agora me violentasse, eu seria a culpada, afinal, por que não escolhi outro lugar para pegar o ônibus? Ou por que não resolvi meu problema antes, para não precisar estar aqui sozinha? Ou ainda, por que estou de cropped na beira do asfalto?” Fiquei com vontade de chorar. Coração apertado. Daí comecei a pedir ajuda das deusas, fui evocando mulheres que admirava, pensando nas minhas ancestrais, e uma canção foi entoada. Senti meu corpo arrepiar e a presença de uma forte energia que acalentava meu desespero. De repente me senti forte. Me senti uma guerreira e juro que seria capaz de destruir qualquer homem que atentasse contra meu corpo. A canção entoada foi assim:
“Iansã me proteja de todo mal de todo homem.
Iansã me proteja de todo mal de todo homem”.
Entoei essa canção e marquei o ritmo com palmas. Senti no coração a força de uma legião de mulheres guerreiras. Não parei de cantar um segundo. Até que os dois homens que me observavam foram se distanciando, e em pouco tempo um homem uniformizado se aproximou. Ele era funcionário da empresa de transporte que eu aguardava, esperava o mesmo ônibus, chegou com serenidade nos olhos, não o vi como ameaça. Diminuí meu canto e passei a repeti-lo mentalmente. Meu ônibus chegou. Mandei uma mensagem para uma amiga sobre como estava me sentido. Ela respondeu: “Sinto muito que esteja se sentindo assim. Sinta-se abraçada. Você não está só!”
Aline Rafaela
Preserve a Alma completou 5 anos hoje!
Em janeiro de 2017 dei início a um processo de autoconhecimento e desenvolvimento da minha espiritualidade. Nesse processo decidi que iria valorizar a poesia que saía de dentro de mim, sem me sabotar. Fiz esse blog "Preserve a Alma" que, como o título diz, "fidelidade à alma é segredo". Decidi recomeçar a minha trajetória alinhada com meu propósito de vida e minha missão de alma. Um lindo recomeço que me rendeu posteriormente duas publicações em coletâneas com várias autoras talentosas. Que orgulho de mim! Como processo é processo, aos poucos vou dando corpo àquela nascente que cultivei em 2017. Escolher conscientemente não sabotar a minha escrita ainda é um trabalho árduo. Mas irei até o fim. De "Preserve a Alma" passei para outro projeto, (-> clique aqui para conhecer: https://alinerafaelalelis.blogspot.com/ )depois de ser selecionada para participar da FlupRJ2020. No curso de escrita criativa oferecido pela famosa Festa Literária das Periferias eu me assumi escritora diante do espelho, não sem dores e curas, claro. O imaginário que carregava desse "ser escritor" geralmente envolvia imagens mirabolantes de homens (brancos) em seus escritórios, sem serem incomodados, sendo servidos e sem ter que se preocupar com aluguel, crianças, casa, etc. Como poderia me imaginar escritora? A Flup fez esse trabalho comigo e com as participantes do meu grupo, nos fez enxergar a literatura como um caminho possível para nós, mulheres negras. Hoje a plataforma Tumblr me lembrou que já faz 5 anos que decidi nunca mais apagar, deletar, excluir nada do que escrevesse. Acho bom voltar à esse blog de vez em quando e acompanhar meu progresso. É como dizem por aí: "a meta é ser melhor que ontem, não melhor que ninguém".
Gratidão aos meus leitores e leitoras que me acompanham desde o início.
O sonho está apenas começando. Axé!
Spring Gif! Experimenting with making gifs on Photoshop. :)
"Sê forte." Disse-me um anjo. "Agora estás por sua conta e risco. Parece assustador, mas essa sempre foi a realidade. O resto era tudo ilusão, e você acreditou porque não estava preparada para lidar com a verdade. Agora que sabes, não te apavora. Saber que tens a si e poder contar consigo mesma é a maior liberdade que um ser humano pode ter".
Aline Rafaela Lelis (Notas de Celular - Setembro de 2019)
Menina de cabelos vermelhos
Sua imaginação é tudo que tenho no momento
Encontra-la aleatoriamente nesta vida
Foi a melhor coisa que me aconteceu
Seus olhos azuis e grandes como bolas de gude
Me fazem viajar no tempo,
Vendo você menina reconheço a menina que fui
Estranha, imaginativa, sensível...
Você veio me dizer que eu preciso fazer as pazes comigo mesma
Com aquela que sobreviveu as mais cruéis adversidades
Você veio me mostrar que, de certa forma, eu ainda sou menina
E tenho um mundo para descobrir
E eu só tenho que agradece-la por existir
Mesmo sendo você, apenas uma personagem de um livro bom
Aline Rafaela Lelis
Coração em chamas
Na alma o chamado
Quem é seu amado?
Por que tanta dor?
Coração em chamas
A cura é rio
O Rio que navega
Lento até o mar
A cura é amar
Coração em chamas
Na cabeça, ódio
No corpo descontentamento
Sabedoria aguarda o momento
A hora certa de enlouquecer
Coração em chamas
Cabeça insana
Sede de sangue
Bombeia sentimentos
Bombardeia ideias
Guerra!
Sou mulher SÓ
A lutar
Coração em chamas
Batalha vencida
Aprendeu que inteira
Não pode estar adormecida
Despertou para vida
Entendeu o recado
A força bruta é a vida
Que não se desiste fácil
Coração em chamas
Desde pequena
Motivos secretos
Nos olhos calados
Desejos inquietos
Coração em chamas
Na dor e na alegria
Tanto faz, tudo é sinal de vida
Agradecer é a via
Para se viver mais leve
Coração em chamas
No corpo breve
Na vida efêmera
Na alma contínua
Esteja a vida como estiver
Seja grata, mulher!
Aline Rafaela Lelis
Notas de Celular (outubro de 2019)
Embora muito próxima, ela sempre me pareceu indecifrável. Do tipo de pessoa que não se pode esperar muito. Ela me entristece nas pequenas coisas. Na ausência da escuta e na frieza dos gestos. Abraçá-la é semelhante a tocar um estranho. Diferentemente do abraço que cura, seus braços não são envolventes e não dizem nada além de boa educação. Essa falta de calor, essa contenção dos sentidos por si só magoa. Uma bobagem... Porque abraços aconchegantes é comum entre mim e outras pessoas. Mas penso que o afeto entre irmãs deveria ser condição mínima para cristalizar os laços.
Aline Rafaela