entre o apelido abominado e a malícia estampada na expressão alheia , neslihan sentiu as íris faiscarem em desafio , um sorriso calculado o suficiente curvando os lábios. o epíteto era uma das formas mais certeiras de provocação – e camilo sabia disso. desde o instante em que ela cometera o deslize de demonstrar seu desgosto pela abreviação , ele parecia se deliciar em usá-lo com prazer sádico. era claro que ele queria irritá-la , até onde , ainda não havia decidido , e havia uma ínfima parte de si que ansiava por descobrir o limite entre ambos. nada que meros segundos na presença do mais velho não desfizesse , transformando qualquer semblante de curiosidade em uma nuvem de irritação. ❝ ah , carissimo , você ainda não sabe do que eu sou capaz ? ❞ o tom de sua voz era uma provocação tão evidente quanto as palavras escolhidas por ele momentos antes. era quase irresistível desafiá-lo , como se confrontar o ego do ricci fosse tão instintivo quanto respirar.
as orbes estreitaram ao acompanhar o percurso do olhar dele, sentindo-se exposta , estudada , como se pudesse ser decifrada com uma mera observação. impossível , homens como ele tinham um limiar de atenção tão diminuto quanto suas intenções eram previsíveis – a busca por troféus para massagearem o próprio ego. ainda assim , a marca que os castanhos deixavam em sua pele era inegável. sustentando a atenção masculina com uma mistura de desdém e diversão , ao contrário do que ele pudesse imaginar , com a destreza de uma amazona treinada desde a infância , ela já havia assumido as rédeas da situação. aproximou-se um passo , o suficiente para que o perfume feminino e a colônia masculina se mesclassem entre eles , a voz baixa em um tom quase confidencial. ❝ você parece confundir a minha atenção com um prêmio , mas não se engane — ao final do seu espetáculo , quem aquecerá minha cama não será você. ❞ outro passo à frente , as pernas quase se tocando , pegou uma das doses recém entregues , resvalando os lábios no vidro em um gesto que incorporava desafio. sorveu o líquido âmbar em um único gole , um sorriso curvando as feições.
❝ dedicar uma música ao seu fracasso agora me parece previsível demais. talvez eu deva escolher algo mais apropriado à sua natureza… ❞ o olhar percorreu-o lentamente , de cima a baixo , detendo-se como se em deliberação. ❝ you're so vain me soa como uma boa opção. ou , quem sabe , no scrubs. quase perfeita. ❞ inclinou o torso até que seus rostos estivessem a meros centímetros , suas respirações em uníssono pelo breve momento enquanto depositava o copo vazio com um tilintar contra a mesa. endireitou a postura com uma piscadela , lançando um beijo para matteo antes de prender os longos fios em um gesto casual. com confiança , marca da sua presença , virou-se em direção ao palco improvisado. ❝ para você , ricci ! espero que preste bastante atenção , porque não tenho o costume de repetir performances. ❞
os primeiros acordes de i'm that chick preencheram o espaço. a voz da gökçe , suave e provocativa , ecoou junto à melodia de mariah carey , capturando cada olhar presente. soltando os cabelos , antes presos estrategicamente , lançou-os para trás em um gesto que parecia uma declaração de êxtase. enquanto os saltos marcavam o compasso , aproximou-se de matteo , a destra escorregando pelo peitoral alheio , girando os quadris no ritmo da música. com um clique do grave , encarou a audiência , mantendo contato visual , um sorriso ladino sustentando cada passo. ensaiado pelo instinto , com os dígitos enredados na camiseta do mais novo , puxou-o para o palco , envolvendo os braços musculosos em sua cintura. usou-o como apoio para oscilar o corpo , acompanhando o groove com perfeição enquanto proclamava que seu sabor era tão doce quanto o de sorvete. os movimentos , precisos e calculados , incendiavam , e o loiro , finalmente rompendo seu estado de transe , ajustou as mãos ao longo do espaço entre costelas e quadril , encaixando beijos leves no pescoço feminino. os gestos , que normalmente a inflamariam , passaram despercebidos. o que fazia seu sangue vibrar era o triunfo , cada olhar fixo em si como um feitiço , e ela , o antídoto para a monotonia.
no último refrão , seus lábios enunciaram as palavras com clareza , como se fossem exclusivamente direcionadas a camilo. com o grave final , permitiu que o corpo fosse envolvido pela figura loira , as íris fixas às do moreno. o som da própria respiração e do sangue bombeando em seus tímpanos abafando a reação dos aplausos. com elegância desvencilhou-se de matteo , retornando à mesa originalmente para dois , a terceira cadeira uma intrusão em dissonância , com um sorriso doce desenhando as linhas femininas. ❝ não importa o quão encantadora você ache que sua teia é , algumas presas sabem exatamente onde estão pisando. ❞ o sussurro malicioso veio tão próximo que o calor da respiração de ambos se encontrou antes que ela recuasse. deixou escapar uma risada baixa antes de sentar-se novamente , um martini aparecendo como por encanto em suas palmas , refletindo as luzes do ambiente. brincando com o líquido , cruzou as pernas com um movimento deliberado. ❝ então , caro , sua curiosidade está saciada ou devo continuar ? como disse , é raro me repetir , mas se matteo estiver disposto , posso muito bem roubar a cena novamente enquanto você tenta acompanhar. ❞ movendo a taça para a direita , entrelaçou os dedos do loiro entre seus joelhos cruzados , um gesto em possessividade e provocação.
caso camilo se dispusesse a frequentar um terapeuta, provavelmente o escutaria racionalizar alguns mecanismos de defesa que o homem desenvolvera ao decorrer da vida, bem como ciclos viciosos aos quais ele estava preso. neslihan, para azar da própria moça, encaixava perfeitamente no tipo de situação em que o ricci acabava se colocando pela mera imaturidade emocional que alguém de sua idade não deveria ter. fosse ele menos traumatizado (ou ao menos capaz de lidar devidamente com seus traumas), provavelmente não depositaria tantos esforços naquela dinâmica, e certamente não estaria interrompendo o que era claramente um encontro - muito embora fosse visível a falta de química ali. e que não o entendessem errado: neslihan era exatamente o tipo de mulher que o atraía. tudo bem, ele também não tinha parâmetros tão rígidos e era mais do que comum vê-lo com todo tipo de pessoa. mas fato que, na lista de todas as suas preferências, gökçe gabaritava cada uma. desde detalhes menores como os olhos escuros e a altura acima da média, até coisas mais instigantes ainda como a personalidade forte e o temperamento colérico. mas naquele universo em que ele ainda era tão desequilibrado quanto podia ser, o que mais o instigava era o desafio e a auto validação que conquistá-la traria.
de modo geral, ele não era a pessoa mais competitiva do mundo, simplesmente porque um traço de personalidade desse exigiria esforços demais com muita frequencia. mas quando ele queria, sabia sim aplicar toda a sua energia em busca de uma vitória. naquele momento, por mais que pudessem pensar que a tal vitória vinha no formato da aposta, grande parte do seu real objetivo já havia sido conquistado. se ele receberia ou não a maior quantidade de palmas aquela noite (e tinha certeza de que o faria), já havia conseguido roubar neslihan do coitado que observava ainda perdido o caminho da conversa entre os dois conhecidos. o momento decisivo foram os segundos que antecederam as palavras da mais jovem, em que ricci não desviou o olhar do dela um momento sequer. ele sorriu com sua resposta; por mais que a frase estivesse repleta de desdém, ainda havia caído em sua teia. não se julgava mais esperto que neslihan, tampouco tinha a inocente crença de que a havia enganado ou qualquer coisa do tipo. sabia muito bem que, do mesmo modo que o ego de camilo se alimentava de toda a situação, o dela devia fazer o mesmo, pelo menos um pouco.
satisfeito com o rumo da conversa, ele ergueu o braço para pedir mais duas doses do uísque que havia roubado do loiro. "primeiro, não faça promessas que não pode cumprir, hani. e depois, há jeitos menos performáticos de calar a minha boca, mas acho que isso vai ser bem divertido de assistir." respondeu, o rosto iluminado por uma visível malícia. ergueu as sobrancelhas diante da proposta, apreciando a sugestão. antes de responder, porém, observou por sólidos segundos a figura agora em pé e ligeiramente inclinada de outrém, os olhos já escuros de camilo pareciam totalmente pretos enquanto percorriam cada centímetro de neslihan. "na verdade, você me deixou curiosíssimo para saber qual música dedicaria a mim." inclinou o próprio corpo para frente, ainda sentado, o olhar retornando ao dela. "além disso, não quero que me culpe quando você perder. então vai lá, me surpreenda."
münevven şahverdi , née gökçe ( 1973 - 2019 ) , mother , birce akalay !
kadir şahverdi ( 1967 ) , father , kenan imirzalıoğlu !
neslihan şahverdi gökçe ( 1995 ) , daughter , the activist , hande erçel !
@khdpontos
o sarcasmo na voz grave era um alento ansiado , uma familiaridade que a fazia esboçar um sorriso . aaron acreditava no amor tanto quanto ela mesma — céticos do sentimento inexistente . em outra realidade , uma em que não fossem moldados por passados que os impediam de se permitirem liberdades emocionais , poderiam talvez formar um par perfeito , alcançando juntos o mais próximo do que aquela emoção inventada prometia . ao notar o olhar que ele lhe lançava de soslaio , permitiu-se um ínfimo tremor no canto dos lábios . mas ali a verdade era imutável , neslihan jamais consentiria em ser destino final dele . o melhor amigo de sua vida merecia felicidade plena , e ela era o exato oposto . em sua percepção , ninguém ali era digno dele , cujo coração trancafiado guardava uma bondade infinita . ele não era como ela , não precisava lutar para melhorar o mundo para compensar as máculas que fervilham dentro de si .
o fluxo dos pensamentos era interrompido pelo riso dele — e , mesmo sem ter se atentado às palavras que precederam o som , deixou que a própria risada o acompanhasse . a provocação era um bálsamo apreciado , e a descontração logo se refletia em sua expressão . ❝ nós dois sabemos que eu danço muito bem , só espero que você tenha praticado desde a última vez em que te arrastei para aquela festa que mudou o meu destino . ❞ a mulher possuía desenvoltura suficiente para se adaptar ao ritmo latino , e , mais do que isso , a sintonia entre os dois era natural . ação e reação . o desafio era instigante , mesmo que ela duvidasse que sairia dali uma exímia dançarina de salsa . ❝ por favor , se fosse real , todos sabem que seríamos o casal com maior sintonia entre todas as possibilidades . ❞ voltando-se para ele , ainda com o braço entrelaçado ao seu , apontou a manicure carmesim em uma concordância veemente . ❝ é exatamente isso . você sabe que me recuso a me envolver com qualquer um dessa cidade justamente por essa necessidade que todos têm de comentar e julgar cada passo . agora , com os nossos nomes na ponta da língua de cada um , ficou impossível encontrar um instante de sanidade . ❞ não ousaria mencionar olivia naquele momento — não enquanto a irritação ainda latejava em sua mente . a amiga transformara sua rotina em um caos absoluto com aquelas palavras proclamadas em público , e neslihan não queria imaginar a reação de aaron se trouxesse o detalhe à tona .
com o tom diminuindo , se inclinou levemente em direção a ele , na tentativa de captando a confidência que parecia prestes a ser dita . ❝ estou começando a achar que , na verdade , você realmente acredita nessa história de maldição e quer que eu seja o seu felizes para sempre. ❞ arquejando , revirou os olhos , ainda que algo se enraizasse em sua consciência . era um pensamento descartável , e , ainda assim , ali estava , persistente no fundo de sua mente . ao retornarem à repartição envidraçada , assentiu , as íris se conectando às dos professores , enquanto o calor da mão dele a reconfortava . aproximando-se , ofereceu um sorriso gracioso , levemente ensaiado , ao casal que os guiaria . ❝ espero que não sejamos os piores alunos que já tiveram a infelicidade de ensinar . ❞ o humor autodepreciativo era uma estratégia eficaz para desarmar expectativas . ❝ mas prometo que seremos os mais dedicados . nosso gênio aqui aprende tudo em uma velocidade surpreendente . ❞ afagando a palma de aaron que repousava em seu ombro , piscou para a professora , que sorriu em resposta e rapidamente os posicionou onde deveriam começar . desfazendo o meio abraço , buscou a canhota alheia , entrelaçando os dedos aos dele , enquanto deslizava a própria até o deltoide desenvolvido . ❝ preparado ? ❞
Aaron deixou escapar um som curto, algo entre um riso baixo e um suspiro. "Ah, claro. O tão conhecido destino das almas gêmeas platônicas." Sua voz carregava a ironia de sempre, mas não um deboche real. Ele entendia o que ela queria dizer, e talvez, em uma outra vida, acreditaria nessa possibilidade. Mas a verdade era que era difícil acreditar em qualquer tipo de amor. Ainda assim, amenizou a dureza na expressão e o próprio tom de voz. "Mas se fôssemos mesmo alma gêmea, eu não iria reclamar". Ele lançou um olhar lateral para Nes, absorvendo a tensão quase imperceptível que ela tentava esconder. Aaron sabia que aquele tipo de exposição a incomodava mais do que queria admitir. Sabia porque, apesar de toda a racionalidade que exalava, ela também evitava certos riscos como ele. Por isso, acrescentou em brincadeira, tentando arrancar um sorriso dela. "Sabe, consigo imaginar alguns sacrifícios piores". E ele riu, porque ambos sabiam que não seria sacrifício algum para Blackwell. Se pudesse passar o dia inteiro na companhia de Nessie, ele passaria. "Mas, escuta, se a gente for mesmo uma ironia cósmica, espero que a gente pelo menos consiga dançar decentemente. Seria um pouco humilhante descobrir que o universo quer que a gente fique juntos e a gente não acerta nenhum passo. Cadê nossa sintonia, dona Neslihan Gökçe?" A provocação foi acompanhada de um sorriso enviesado antes dele continuar, agora de forma mais despreocupada: "E sobre ser assustador... eu diria que é mais um incômodo do que um pavor real. Você sabe, a última coisa que eu quero é que a cidade inteira se sinta no direito de dar opinião sobre minha vida amorosa." Ele fez uma pausa, então completou com um tom mais baixo, quase como se estivesse concedendo algo: "Mas falando sério agora, se for para passar por isso com alguém, não me incomodo nem um pouco que seja com você." Ele colocou a mão nas costas dela, e lenta e gentilmente a empurrou mais para o centro da sala. "Agora vamos ver se o destino também acredita no nosso talento para a salsa." Acrescentou, decidindo passar um dos braços sobre os ombros dela para dar mais segurança e proteção à amiga.
✉️ : é impossível manter a civilidade com você
✉️ : ...
✉️ : e quantas páginas você já leu ? vinte ?
✉️ : se parecer com sr. darcy você se refere a uma pessoa estimada , valiosa , justa , com princípios e livre para ser e fazer o que quiser , sim , eu sou exatamente o sr. darcy
✉️ : já você , parece a sra. bennet
✉️ : quando terminar orgulho e preconceito , sugiro morro dos ventos uivantes
✉️ : realmente , útil para conseguir processos de assédio e atentado ao pudor
✉️ : eu espero que você saiba que vai ser a pior noite da sua vida
✉️ : um completo pesadelo
📲 [milo]: haha you wish
📲 [milo]: atração? você já me mandou à merda com mais fogo do que beijou ele aquela noite
📲 [milo]: é claro que levarei! mas primeiro tem o brunch que eu prometi. aparentemente, as mulheres do clube do livro querem me conhecer
📲 [milo]: ja leu orgulho e preconceito? comecei esses dias
📲 [milo]: você parece o mr darcy
📲 [milo]: anotado: você quer amarrar minha boca. podemos fazer acontecer, mas eu te garanto que sou muito mais útil com ela livre
📲 [milo]: tarde demais. já tá decidido
📲 [milo]: você perdeu, darcy, agora vá escolher seu vestido para o encontro, mesmo que seu parceiro seja apenas tolerável
o desconforto os envolvia com a mesma intensidade dos acordes vibrantes que ecoavam à medida que se aproximavam das imponentes portas de vidro pivotantes . ❝ verdade , mas você quase nunca contou com a minha determinação nessas circunstâncias. ❞ a gökçe era capaz de tudo para não se permitir vulnerabilidades ou se colocar em situações em que não pudesse exercer qualquer módico de controle . não que dançar com aaron caracterizava algo naquelas linhas — já haviam sido pares inúmeras vezes nas recepções da família durante a adolescência — , tampouco o desafio de um ritmo latino complexo , cujos passos exigiam uma maestria improvável para ambos , era o verdadeiro problema . o que realmente a inquietava eram os olhos atentos e os sussurros que os acompanhariam se qualquer passo em falso entre eles decorresse . ela já os havia enfrentado com os nervos por um fio anteriormente com christopher , expostos como estavam no coreto . dado o receio de se expor daquela maneira , seria intrigante conciliar a relutância com a postura de uma advogada bem-sucedida , habituada a enfrentar olhares e julgamentos enquanto defendia suas convicções com destemor . a diferença crucial estava na natureza da atenção que recebia , no tribunal , era a profissional sendo avaliada . ali era sua vida pessoal sob escrutínio — um aspecto que sempre zelara em preservar sob sete chaves , ainda que em khadel , o esforço para tal era uma tarefa quase hercúlea .
com um breve aceno , cedia ao inevitável . pelo entusiasmo que já percebia nos rostos dos instrutores que os aguardavam , estava claro que teriam ao menos que tentar . porém , a pergunta a fez interromper o passo antes de atravessarem o limiar do que parecia ser um vórtice , prestes a lançá-los no olho da tempestade . ❝ não sei se você subestima minha racionalidade ou superestima minha irracionalidade . mas… bem , não me dei ao luxo de cogitar que tudo isso possa ser real . ❞ não depois de já ter se ferido o suficiente para permitir que sua mente vagueasse por essa possibilidade mais uma vez . suspirou , desta vez com um peso diferente , mais denso que a mera exasperação anterior , os ombros antes impecavelmente erguidos cedendo sutilmente à gravidade do pensamento . ❝ sei exatamente o que quer dizer , mas se tudo for verdade e eu estiver equivocada no meu ceticismo , o universo fazendo de mim uma ironia cósmica , você sabe que almas gêmeas não precisam , necessariamente , ser amantes , não sabe ? ❞ se o amor era algo real e tangível , se era , de fato , necessário , neslihan acreditava que ele poderia se manifestar de formas distintas além da romântica . se essa era uma brecha nas palavras da maldição , por mais remota que fosse , talvez houvesse espaço para um afeto platônico. ❝ e eu sinceramente gostaria de não me sentir ofendida pelo fato de você considerar assustadora a possibilidade . seríamos imensamente felizes pelo resto de nossas vidas . ❞ a declaração era entrelaçada com humor , e , no fundo , ela acreditava poder ser uma verdade .
Aaron expirou lentamente, sem se dar ao trabalho de esconder o ceticismo com toda aquela situação. Mas não era um ceticismo total, claro, já que ele fazia um esforço de estar ali e realmente estava começando a ficar engajado em toda aquela história de "encontrar a alma gêmea". Observou o estúdio à sua frente, a música animada que escapava pelas frestas da porta, e depois olhou para Nes, que parecia muito mais resignada do que deveria estar. "Se essa fosse uma solução viável, eu já teria tentado em várias outras situações da minha vida." Ele permitiu que ela entrelaçasse o braço no dele, sem protesto, mas ainda visivelmente um tanto desconfortável. Ainda que tivessem dançado inúmeras vezes ao longo da vida, achava um pouco estranho considerar aquilo no contexto do encontro. "Infelizmente, acho que vamos ter que dançar de verdade." Aaron não era exatamente descoordenado, mas também nunca havia se colocado na posição de alguém que dançava salsa – e muito menos em um contexto em que a cidade inteira torcia para que aquilo fosse um passo em direção à sua alma gêmea. Ele lançou um olhar de canto para Nes, ainda contemplando a ideia absurda. "Você já pensou nisso?" perguntou, casual, mas com algo mais na voz. "Se essa coisa toda estiver certa, e a gente for, de fato, compatível?" Foi a vez dele de soltar um sorriso discreto – um que não se espalhou completamente pelo rosto. "Não sei se fico aliviado ou assustado. Você entende o que quero dizer, não entende?" Riu um pouco, pelo inesperado da situação.
inclinando a cabeça em sinal de concordância , os dedos acompanhando ritmicamente suas palavras . ❝ é como eu disse... parece que alguém decidiu colocá-la sob os holofotes , e quem sabe o motivo ? ❞ exalando o ar , impaciente , irritava-se com a obsessão cíclica que a cidade demonstrava por certos assuntos . era quase como se os habitantes existissem apenas como figurantes , ávidos por um drama que os distraísse da monotonia . seus pensamentos se dispersaram , revisitando os acontecimentos recentes e a maneira desmedida como reagiam a qualquer mudança — como se presos em um tempo que parecia imóvel , em que um mero sussurro era capaz de desencadear uma tempestade . por um breve momento , o pedido de aaron se tornou apenas um ruído de fundo , até o tom dele interromper o fluxo de suas ponderações dispersas . o nome olivia raramente culminava em sorrisos , e embora não fosse conhecida por recuar diante de um confronto , não estava exatamente inclinada a iniciar o dia sob a nuvem densa de irritação e ressentimento que parecia pairar sobre o blackwell sempre que o tema emergia . contudo , ela sabia o custo que tocar na ferida profunda , uma que ele carregava desde a pré-adolescência, possuía . ❝ ace... ❞ o apelido de infância escapou os lábios com uma nota de exasperação , na tentativa de conter a intensidade de sua intervenção . ❝ eu sei . sei que seus sentimentos são completamente justificados , e reconheço que o que aconteceu foi cruel , com nós dois—nós três , mas... toda história tem dois lados . sim , você tentou com todas as forças resgatar o que perdemos , mas , aaron , já considerou que algo maior pode a ter impedido de se abrir com você naquele momento ? ❞ entendia mais que ninguém o peso da rejeição que ele ainda suportava . ela também fora atingida pelos estilhaços daquele laço desfeito , e mesmo persistindo em incontáveis tentativas durante um período muito mais longo que ele , só conseguira uma brecha nas muralhas de olivia . ainda assim , quase quinze anos depois não poderia dizer que haviam restaurado a familiaridade perdida . em vez disso , precisaram reinventar a amizade , moldando-a às barreiras que de interpuseram entre elas . ❝ não estou sugerindo que você deva agir como se nada tivesse acontecido , mas... talvez... apenas talvez considerar um recomeço ? liv também sofreu , acredite ou não , mas , às vezes , as pessoas precisam mudar para sobreviver a uma nova realidade . ❞ neslihan estava longe de compreender em totalidade o que acontecera com olivia durante os anos fora de khadel . ela nunca se abrira por completo , mas algumas das feridas da mais nova pareciam se comunicar silenciosamente com as suas próprias . era como se houvesse uma compreensão tácita entre elas , mesmo que as palavras não dessem conta de traduzir as experiências vividas . como a boscharino , a gökçe também havia criado suas próprias defesas , embora tivesse encontrado refúgio na força de suas amizades , e não o contrário . ❝ ela errou em dizer que você não tentou , mas acha que existe a possibilidade de ela ter dito isso apenas para feri-lo , como forma de devolver o que sentiu quando você desistiu de persistir no passado ? ❞ a outra era um enigma , uma figura tão complexa que era impossível tentar julgar suas ações ou palavras com demasiada severidade . ainda assim , não seria surpresa se o impulso de provocá-lo fosse apenas uma estratégia para romper a apatia que ele usava como armadura . afinal , fora com provocações que haviam conquistado a amizade na infância , e era o que neslihan fazia diariamente . com a diferença de que ele a permitia . ❝ e quanto a ela ir diretamente te importunar... você mesmo mencionou que havia outras pessoas trabalhando , por que não pediu alguém para atendê-la no seu lugar ? por que escolheu lidar com ela , mesmo quando poderia a ter evitado ? ❞ ela não conseguia deixar de pensar em como algo que antes os unira tão fortemente havia se transformado em uma barreira quase intransponível .
"As pessoas dessa cidade gostam de falar muitas coisas, eu não colocaria tanto crédito nisso. Até porque…", e Aaron era um pouco cético quanto aos diversos boatos que rondavam a cidade. "Como uma pessoa teria poder para mudar tantas coisas?". Ele não acreditava naquilo, naquela capacidade de uma pequena variável, entre tantas outras na cidade, causar um efeito tão gritante. Para ele, os moradores apenas queriam alguém que para culpar, principalmente se a figura não se encaixasse. Blackwell sentia empatia pela forasteira e…até admitia, gostava um pouco dela. Ela tinha algo de peculiar. No entanto, ao ouvir o questionamento sobre Olivia, todas suas divagações sumiram. Ele ergueu a mão para fazer o pedido de sempre, aproveitando a justificativa para pensar no que responder para a Nes. Olivia sempre era um tópico sensível para ele, até porque uma parte de si — sua parte mais mesquinha — sempre desejou que Nes também tivesse parado de falar com a outra quando eles brigaram. Ele se sentiu tão traído pelo sumiço de Fuentes, quando ainda brincavam de ser gente, que desejava ter apenas para si a amizade de Nes. Como se aquilo talvez provasse o ponto de que ele era que estava certo. Foi só quando a comida chegou, e Nes voltou a fazer a pergunta de 'Quem puxou o assunto primeiro?', que Aaron respondeu, dando de ombros. "Sei lá, os dois?", ele balançou a cabeça, irritado. "Na verdade, a culpa foi da sua amiguinha. Eu estava tranquilo no bar, e tinham outras pessoas trabalhando ali, que ela poderia ter facilmente ido fazer o pedido, sabe? Mas não…ela tinha que vir falar comigo. Ela tinha que encher o meu saco". Só de lembrar da cena, ele sentia o corpo querer voltar a tremer de raiva. A mera lembrança dela era capaz de desestabilizá-lo. Aaron considerou reclamar do fato de que Olivia lhe acusou de ser atraído por ela, mas ficou com medo da resposta de Nes. Temia que a melhor amiga concordasse, por isso, reclamou de outro ponto: "Ela veio dizer que eu coloco ela como vilã, que eu nunca tentei entender o que realmente aconteceu e não sei o quê, sendo que…" Ele ergueu o olhar e balançou a cabeça, lembrando das vezes que tentou ir atrás dela quando Olivia não estava na cidade. E não conseguiu dizer mais nada, porque não conseguia organizar tudo o que queria falar. Era isso que Olivia causava nele. "Não é verdade", se limitou a dizer.
com os antebraços apoiados contra a pegajosa bancada , a pele despida do blazer e sobretudo se arrepiava contra o ar palpável do the loft. neslihan questionava se aquela realmente era uma boa opção para finalizar o dia que a exaurira , mas a certeza de negronis de proveniência questionável — dos quais já havia consumido o suficiente para justificar a postura desalinhada — firmava sua permanência por um interlúdio. o gravame psíquico arqueava os ombros , os nervos tilintantes suprimindo o que restava de paciência em seu âmago , e somente a noção de estar sozinha , ainda que cercada de pessoas , a fazia respirar pausadamente em tentativa de conter o ímpeto que se alastrava. não só pela sandice que parecia ter tomado khadel que o estado de humor mordaz da gökçe se manifestava , mas também pelo caso de severidade peculiar que havia chegado em suas mãos — a complexidade similar ao último , e único , litígio malsucedido de sua carreira. a memória escaldante , marcada não só pela vaidade ferida , mas pela sensibilidade do assunto e as figuras associadas , permanecia um peso em suas entranhas , a impregnando de amargura. por breves instantes almejou uma presença com quem pudesse exorcizar o sentimento , mas rapidamente rejeitou a noção como uma simples frivolidade. o fim de mais um negroni entre as palmas — frias ao toque , mas abrasadoras contra o delicado vidro — , preparava-se para adornar as feições com um breve sorriso e solicitar outra sequência do drink , quando os sons dispersos do bar e o inconfundível timbre da última pessoa que desejava encontrar , fosse naquele instante , ou em qualquer outro , se quisesse ser honesta , a alcançaram em um único impulso. todo o amargor que fervilhava em seu íntimo encontrou escape diante da voz que transbordava arrogância, como se a verdade fosse sua propriedade exclusiva , e ele , o único digno de desvendá-la. a risada carregada de escárnio escapou os lábios ainda tingidos do habitual carmesim antes mesmo que pudesse pensar em reprimi-la — não que fosse fazê-lo de qualquer forma. ❝ ah , claro... e você é a maior autoridade em amor que existe , não é mesmo , d'amato ? ❞ as orbes vagamente turvas atinham-se ao homem , a meros dois bancos de distância. a quanto tempo ele estava ali?
❝ com todas as suas brilhantes músicas e poesias verbais , como não ser. ❞ os lábios repuxavam-se sutilmente em ironia , o desprezo francamente exposto. ❝ conte-nos mais sobre o que é o amor , como é o sentimento , christopher ? é ser superficial e arrogante ? dar as costas a quem precisa ? ou fazer tudo o que é mandado somente para não ter que lidar com o sentimento de fracasso ? ❞ a cada questionamento o corpo inclinava em direção a ele , o olhar ácido corroendo a si mesma. ❝ é claro que a maldição é uma falácia , mas não porque ninguém — além de você , é claro , chris- ❞ o epíteto soava como um sibilo na língua feminina. ❝ sabe identificar o amor , mas pelo simples fato de que. o. amor. não. existe. ou você acha mesmo que se existisse o mundo seria como é ? ❞ considerando o assunto encerrado , o ar nocivo , até então aprisionado em seus pulmões , finalmente expelia. ajustando a postura com precisão , os olhos se fixaram na rodela de laranja que adornava o copo , como se fosse um ponto de contemplação existencial.
closed to @neslihvns, no bar.
Era final de tarde quando ele entrou no bar. Após um longo dia, repleto de comentários e da presença desnecessária do pai em seu escritório, a única coisa que Christopher conseguia pensar era que precisava de uma boa dose de whisky. Talvez mais de uma, isso se ele quisesse ter chances de acordar relativamente bem humorado no dia seguinte.
Acomodou-se em um dos bancos próximos da bancada e esperou pelo atendimento. Geralmente quando ia ali, Christopher exibia um sorriso simpático, que fazia com que as pessoas quisessem se aproximar dele naturalmente, mas naquele momento, seu esgotamento mental era tamanho que ele sequer era capaz de fingir normalidade. O garçom, que já o conhecia, tentou puxar assunto enquanto servia a dose costumeira de whisky, falando sobre as recentes histórias dos apaixonados, mas tudo o que conseguiu foi incomodá-lo mais.
"Você realmente acredita nessa história de maldição?" Questionou, o cenho franzido em uma clara expressão de julgamento. "Não te causa nem um pouco de estranhamento um monte de gente que se julgava incapaz de amar começar a amar após dois estranhos saírem gritando que estão apaixonados?" Os dedos se fecharam ao redor do copo que prontamente foi levado em direção aos lábios para que ele sorvesse um gole curto do líquido âmbar. "Isso não existe. Esse boom de histórias nada mais é do que um efeito manada. O amor sempre esteve por aí, e graças ao fato da maioria não saber como senti-lo, criou-se essa história boba pra ser usada como justificativa." Finalizou como se estivesse dizendo algo óbvio, não percebendo um rosto conhecido que estava próximo.
com um dar de ombros apressado , suspirou , o assunto da mais nova integrante de khadel era um tanto sensível para a gökçe . ❝ estão dizendo que a chegada dela foi o motivo para que todas essas "mudanças" acontecessem . ❞ as aspas saíam em uma entonação levemente enojada diante do assunto , interrompida pelo diminutivo que aaron insistia em relegar a olivia , que a agravava de forma quase instantânea . a linha tênue que ela insistia em andar entre os dois por vezes era exaustiva , dividida entre os polos que a atraíam . era demais pedir que algumas coisas retornassem ao seu estado de origem ? . ❝ uhum , quem provocou quem dessa vez e quem puxou o assunto do passado primeiro ? ❞ o tom era seco , ele sabia do seu posicionamento em relação à dinâmica entre duas pessoas que adorava . ❝ não duvido que está próximo de alguém dar um show por lá , levando em consideração os sentimentos aflorados dessa cidade . ❞ sorvendo o último gole do café e mordiscando mais um pedaço do biscotti , questionou se ousaria pedir mais uma xícara , ou se a agitação em suas veias já atingira o ápice . ❝ não , o meu papel aqui está feito , te atualizei sobre os absurdos rondando por aí , ingeri mais açúcar do que deveria e te fiz dar um sorriso . acho que posso começar o meu dia com o pé direito . ❞ ergueu as sobrancelhas de forma cômica , logo perdendo a batalha contra a própria força de vontade e rendendo-se a mais um ristretto . ❝ e fiz tudo isso antes de você sequer pedir um copo de água . ❞
Apesar do cansaço, Aaron sorriu de lado com a resposta da amiga. Nes sempre conseguia esse feito com ele, fazê-lo rir de coisas do cotidiano mesmo em meio à rotina puxada. Ao ouvir o nome de Vivianne, o seu interesse aumentou e ele não conseguiu conter a pergunta: "mas, calma, por que mesmo a forasteira está relacionada com isso? Me explica melhor", pediu. Blackwell sentia que muita coisa estava acontecendo na cidade em pouco tempo e era difícil de acompanhar. Quando escutou a última pergunta dela, ele deu de ombros. "O turno? Não sei, acho que foi tranquilo...", mais um movimento incontrolável de dar de ombros. "Sei lá". Ele se recostou na cadeira, cruzando os braços na frente do peito, sentindo o humor azedar só com a lembrança. "A sua amiguinha apareceu por lá. Ela foi para o bar e a gente acabou conversando." A palavra saiu forçadamente indiferente. "Ou discutindo, como você provavelmente chamaria". Ele balançou a cabeça, fingindo cansaço. Ou melhor, fazendo bom proveito do cansaço que já sentia e potencializando isso para a amiga. "Mas, fora isso...tranquilo. Sem grandes dramas no The Loft, thanks God. Pelo menos até a próxima vez que alguém resolver tornar o bar o epicentro de uma peça de teatro." Revirou os olhos, relembrando da cena de Olivia ao lado das amigas. Com um gesto despreocupado, ele voltou a pegar o cardápio que tinha abandonado antes, como se tudo o que dissera fosse só mais uma nota de rodapé no dia. "E você? Alguma outra bomba pra soltar ou essa já foi o suficiente por hoje?"
✉️ : é uma hipérbole , camilo , hipérbole
✉️ : não que seja necessário você saber , mas primeiro : ele não é de khadel , ao contrário de você , não preciso conhecer todos os meus vizinhos de maneira íntima
✉️ : e segundo : matteo foi inesquecível , principalmente depois do seu espetáculo
✉️ : você sabe que você é irritantemente IMPOSSÍVEL de ignorar , não sabe ?
✉️ : a única atração óbvia que existe é entre a minha mão e o seu rosto
✉️ : perdi porque você ROUBOU
✉️ : aquela senhora me encontrou no la bottega e tomou meia hora do meu dia para falar sobre você , camilo
✉️ : não , sem chances !!!! um encontro não estava implícito no acordo
✉️ : e não vou tocar no assunto de favores sexuais com você nem sob o uso de narcóticos
✉️ : escolhe outra coisa , eu posso ser sua cozinheira ou faxineira por uma semana inteira , até consigo fingir que adoro o chão que você pisa
📲 [milo]: é só o que falta mesmo, considerando o trabalhão que tiveram pra abrir uma pedreira
📲 [milo]: a culpa é minha que você escolheu o cara mais sem sal de khadel?
📲 [milo]: eu te conheço, e se você não quisesse, não teria nem mesmo me dado tempo de terminar minha frase aquele dia
📲 [milo]: mas deixando sua óbvia atração por mim de lado um pouco, você meio que perdeu uma aposta, tá lembrada?
📲 [milo]: e agora com toda essa pesquisa de campo que precisamos fazer, nada mais justo do que eu usar isso a meu favor
📲 [milo]: então aqui vai
📲 [milo]: já que perdeu a aposta, vai me deixar te levar pra um encontro
📲 [milo]: e vai ter que ser legal comigo a noite toda :)
📲 [milo]: só pra deixar claro, essa última mensagem não tem nada sexual
📲 [milo]: pra isso pode ter certeza que eu não precisaria usar uma aposta
𝒕𝒉𝒆 𝒂𝒄𝒕𝒊𝒗𝒊𝒔𝒕 ! neslihan gökçe , 29 , human rights lawyer . can you hear my heart beating like a hammer ?
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