11. Fábrica
O trabalho é-me odioso agora
pois tudo que faço e construo não é meu
e quase todas amizades são cincunstanciais.
Isto deixa meu espírito enfastiado, esmorecido,
por ver pessoas tão valorosas
simplesmente largadas em serviços metódicos,
por ver atrofiar todo senso de cultura e criatividade
que são tão fortes na infância,
e por ver tanta falta de interesse pelo bem comum.
É uma corrida diária na direção de mais lucros
e tudo em volta é secundário,
e cada dia menos interessa
para que serve aquilo que nós produzimos;
se isso é bom ou mau, já não mais importa.
Imperceptivelmente vamos nos tornando insensíveis
em defesa dos próprios benefícios (mesquinhas quotas)
e acabamos nos esquecendo do motivo
que fez nossos corações começarem a pulsar
e nem tentamos mais redescobrir
o motivo de nossa existência.
A única coisa que nos diferencia de títeres
é o espírito que existe dentro de cada um de nós que,
as vezes, revolta-se e quer libertar-se mas que,
na maior parte das vezes
prefere vergar-se passivo e seguir a corrente.
Março de 1996
20.08.2012 - "Aguardar o Céu, desprezando a Terra, é imprudência / Atendi la ĉielon, malŝatante la teron, estas malprudentaĵo"
Mogi das Cruzes - São Paulo - Brasil 🇧🇷
09.12.2009 - "O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano / Kion ni scias estas guto, kion ni nescias estas oceano"
Caieiras - São Paulo - Brasil 🇧🇷
"O bem que fazemos é nosso advogado através da eternidade" - André Luiz
Penso: Andreo Ludoviko
Bildo: Kagaya
🔹Se alguém falar que é cristão, desconfie: tem muito macaco fantasiado de beija flor.
🔹Se iu diras estas kristano, suspektu: estas multaj simioj vestitaj kiel kolibroj.
Eu estava ouvindo o podcast do Chico Felitti e da Beatriz Trevisan sobre a Jout Jout, e isso me fez refletir sobre como, hoje em dia, tudo parece estar hiperconectado. Parece que as coisas ficaram mais fáceis e rápidas, mas, ao mesmo tempo, surge a necessidade constante de estarmos presentes na internet, independentemente da nossa profissão — seja um professor universitário ou o padeiro da esquina.
Essa imposição de estar presente no mundo virtual me causou um certo calafrio. Fico pensando no que nos espera no futuro, não apenas para nós, que já estamos vivendo isso, mas também para as próximas gerações, incluindo meus futuros filhos. Sou da geração Z, nascida entre 1995 e 2010, e, apesar de ainda ser jovem, observo como nossa geração já enfrenta altos índices de ansiedade e depressão, muito relacionados ao excesso de informação.
Somos bombardeados constantemente por atualizações e por conteúdos de pessoas que, muitas vezes, nem conhecemos. Além do feed, ainda temos os stories, que nos mostram tudo: desde o que um amigo está fazendo até para onde o chefe foi viajar. É como se todos — de grupos completamente diferentes — estivessem o tempo todo se vigiando e sendo vigiados. Isso cria uma rede de exposição que, para mim, não faz muito sentido. Acho que redes sociais deveriam ser um espaço mais íntimo, para compartilhar com um grupo pequeno de pessoas próximas.
No entanto, o que vejo hoje é algo muito artificial. Por exemplo, muitos posts e stories que parecem espontâneos são, na verdade, superproduzidos. A pessoa monta a câmera, escolhe o ângulo perfeito e cria uma cena, como se estivesse vivendo aquele momento naturalmente. Isso me cansa, porque não é autêntico. Antigamente, via as redes sociais como um espaço para registrar memórias, quase como um álbum de fotos dos anos 90. Mas, hoje, tudo parece girar em torno de estética, engajamento e a busca por validação.
Por isso, decidi desativar o Instagram recentemente. Não excluí minha conta, mas dei uma pausa, porque percebi que ele estava consumindo muito do meu tempo, algo que considero precioso. Estou num momento de replanejar minha vida, pensando em casamento, filhos e no futuro. Quero que meus filhos cresçam longe do excesso de tecnologia. Acho que redes sociais só deveriam ser acessadas após os 17 anos, e ainda assim, com muita cautela.
Lembro que criei meu Instagram em 2016, com 16 anos, por pressão de amigos. Naquela época, o Instagram tinha um propósito mais simples: postar fotos e se divertir. Minha biografia era algo despretensioso como “Amo Nesfit e meus cachorros”, e minhas postagens eram de paisagens, amigos ou momentos do dia a dia, tiradas com uma câmera Nikon rosa, simples. Eu não me preocupava com edição ou estética.
Hoje, tudo mudou. A pressão para postar fotos perfeitas, com edições e filtros profissionais, é imensa. Parece que todos precisam ser fotógrafos ou influenciadores. Isso é exaustivo e afasta o propósito original das redes sociais.
Depois de desativar o Instagram, passei a usar meu tempo de forma mais produtiva. Tenho feito tricô, escrito no meu caderno, planejado o Natal, lido mais livros e revisitado séries antigas, como Gilmore Girls. Percebo que reduzir o tempo de tela tem me permitido refletir mais sobre a vida, o que considero essencial. É como se toda a poeira que joguei para debaixo do tapete estivesse sendo finalmente limpa.
Esse é um relato pessoal de como tenho encarado essa pausa das redes sociais e os benefícios que isso trouxe para minha vida. Espero que inspire outras pessoas a refletirem também.
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Ouçam o podcast para mais reflexões
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Abraços ✨
14. Dragão Indomável
É estranho estar na metrópole
onde cada metro quadrado vale uma fortuna.
As pessoas passam todas apressadas
e ninguém para e observa nenhum detalhe.
As coisas são monstruosas
e o odor que sai dos veículos é fétido,
mas, aparentemente, ninguém percebe.
Homens vociferam impropérios com naturalidade
e lindas mulheres passam diante de mendigos
como se eles não existissem;
como se elas tivessem tomado vacina
contra miséria.
Você é um imenso dragão, metrópole,
onde suas várias bocas
cospem labaredas para o ar
e seu coração bombeia para toda a cidade
um sangue nauseabundo
através de avenidas,
rios transformados em esgotos
e colossais serpentes petrificadas
transfiguradas em viadutos.
A solitária ambulância tocando a sirene,
presa no congestionamento da marginal
é atestado incontestável
do reflexo da indiferença
e do preço do progresso.
Novembro de 1996
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11.03.2023 - "Tro da libero kondukas al mizero // Liberdade em excesso leva a miséria" 🍀
Mogi das Cruzes - São Paulo - Brasil 🇧🇷
“Porque a mente é como um espelho; ela acumula pó enquanto reflete. Ela necessita a brisa suave da sabedoria da Alma para afastar o pó das nossas ilusões. Tenta, ó iniciante, unir tua Mente e tua Alma.
Evita a ignorância, e evita do mesmo modo a ilusão. Volta o teu rosto para longe dos enganos do mundo; desconfia dos teus sentidos; eles são falsos. Mas, dentro do teu corpo - o santuário das tuas sensações - procura, no Impessoal, pelo “Homem Eterno”; e, depois de localizá-lo, olha para o teu interior.
Evita o elogio, ó Devoto. O elogio leva à auto-ilusão. O teu corpo não é o seu Eu. O teu EU é em si mesmo destituído de corpo, e nem os elogios, nem as críticas, o afetam.
A vaidade, ó Discípulo, é como uma torre elevada à qual subiu um tolo arrogante. Lá ele se senta com solidão e orgulho, sem ser percebido por ninguém exceto por si mesmo.
O falso conhecimento é rejeitado pelo Sábio, e espalhado ao Vento pela Boa Lei. A roda da Boa Lei gira para todos, os humildes e os orgulhosos. A “doutrina do Olho” é para a multidão; a “doutrina do Coração”, para os eleitos. Os primeiros repetem, orgulhosamente: “Vejam, eu sei”. Os últimos, que fizeram sua colheita humildemente, confessam em voz baixa: “Isso é o que eu ouvi”.
Trecho do Livro "A Voz do Silêncio” de Helena Blavatsky
#helenablavatsky #avozdosilêncio #teosofia #filosofia #eubiose #escolasiniciáticas #esoterismo #espiritualidade https://www.instagram.com/p/CR7M8Yrnonm/?utm_medium=tumblr
12. O dia começou
Sempre quando acordo
ainda está escuro lá fora
e o céu ainda se encontra
forrado de estrelas.
Todos os dias fico enfadado
por não ter tempo de apreciar
toda a beleza dos astros
pois o ônibus não tarda a vir.
A viagem é longa e cheia de solavancos
e quando acredita-se que não caiba mais ninguém
logo sobem mais dez passageiros.
Na rua passam estúpidos corajosos
que tem uma idéia muito mesquinha da vida
pois vivem passando no frente dos carros
como se as sinalizações servissem só para os outros.
Os acidentes são diários
pois homens trasformam meios de tranporte em "meios de correr" e,
nesse mar de problemas
chego quase salvo ao meu trabalho.
Todos querem descer do veículo
ao mesmo tempo e,
diante de hercúleo esforço,
consigo sair e percebo que o dia começou
quando o carro passa na poça de barro
e suja minha calça.
Chegando no serviço vou trabalhar em jejum
pois acabou o horario de café
e logo o chefe vem com dezenas de informações e reclamações,
as quais tento resolver de uma vez
e acabo não resolvendo nenhuma.
Uma coisa de cada vez... - penso
Após o expediente
repete-se aquele espetáculo hediondo:
Enorme massa de seres humanos
apinhada toda dentro dos ônibus.
Lembro que logo farei parte dessa massa
enquanto olho centenas de carros
que buzinam e se dirigem para todos os lados.
Chego em casa num estado deplorável
mas o banho é reconfortante
e a velha cama barulhenta é revitalizante.
Já embaixo de minhas cobertas surradas
Lembro-me de pessoas que nem isso tem
e peço a Deus que a todos proteja
enquanto a realidade vai dissipando-se
em milhares de cenas do dia
e logo vem a deliciosa sensação de queda
que indica que estou entrando
no universo onínico
onde encontrarei com amigos invisíveis
que me incentivarão a recomeçar amanhã
tudo de novo...
Junho de 1996
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L'infero estas malplena, ĉiuj demonoj estas tie ĉi // O inferno está vazio, todos demônios estão aqui (Shakespeare)
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