Seus dedos se fecharam ao redor do ferimento, como se pudesse simplesmente ignorá-lo até desaparecer. Ela manteve os dedos fechados sobre a palma machucada, sentindo a pontada incômoda da farpa de madeira presa à pele. Nada comparado ao resto do que estavam passando. — Não precisa. — Sua resposta saiu automática, curta demais, quase ríspida. — Já vai sair sozinha. — Feridas pequenas, coisas palpáveis, essas eram fáceis de lidar. O silêncio se alongou. Cassandra não desistiu, e isso foi o suficiente para fazê-la soltar um suspiro. Com relutância, Angelina estendeu a mão, mas desviou o olhar, como se aquilo não significasse nada. — Na verdade, não. Mas agora estou pensando seriamente em buscar lenha, só pra parecer mais útil. — Ela brincou, um sorriso de canto surgindo enquanto observava a outra trabalhar na remoção da farpa. — Estava cuidando da limpeza e tudo aqui parece que não foi tocado há décadas.
quanta teimosia ! não se surpreende com a resistência alheia , afinal é como um bônus ser a irmã mais velha de uma família grande cheia de garotos . desenvolveu a paciência como um super poder — ou , quiçá , apenas esteja particularmente zen . me deixe ver sua mão ! quem vê pensa que vai ler as linhas da vida de muse , porém , apenas quer ajudá-lx a retirar a maldita farpa de madeira . você estava buscando lenha ? inqueriu , cuidadosa , quando tenta espiar a mão com certa cautela . é estratégia , porém , em fazer um grande caso para desfocar a tensão sobre o cadáver no andar de cima .
Ela não queria ser grossa. Só estava cansada. E sabia que, naquele lugar, qualquer fagulha podia virar incêndio. Quando a farpa foi retirada, Angelina sentiu o alívio imediato, não tanto pela dor, mas por ter sido tirada, por poder se concentrar em qualquer coisa que não envolvesse cadáveres ou silêncio demais. Angelina arqueou uma sobrancelha, os cantos dos lábios finalmente se curvando em um esboço de sorriso. — Tocava direto... 'Here Comes the Sun', eu acho. Meio irônico agora, né? — Comentou, deixando o sarcasmo leve escapar, mas sem qualquer intenção venenosa. Começaram a andar juntas, e Angelina soltou uma risadinha nasal, curta. — Se curtia, deveria ter dado no pé antes da trilha sonora virar silêncio mortal. — Ela olhou para a lateral da cabana, onde pilhas de lenha improvisadas estavam mal empilhadas. Parte de si só queria voltar pra dentro e fingir que nada existia, mas a outra parte, a que sabia que sobrevivência envolvia trabalho, sempre ganhava. Quando a sugestão veio, ela assentiu com a cabeça, relaxando um pouco. A verdade é que, naquele mundo novo e sufocante, qualquer conversa normal, qualquer lembrança boba sobre música ou rádio, era bem-vinda. — Sabe… às vezes eu me pego pensando no primeiro dia de aula na faculdade. Naquela palestra insuportável sobre ética, eu só queria estar em outro lugar, qualquer lugar. Pois é. — Ela riu baixo, abafado, como se estivesse contando uma piada para si mesma. — Devia ter sido mais específica no pedido.
não se intima com a nuança ríspida que oscilou dos lábios de angelina . ora , ninguém ali está em pleno juízo ! as emoções oscilam e são razoáveis de serem explicadas ; a própria está abalada e volúvel a maior parte do tempo . como você preferir . replicou com suavidade diante à primeira negativa , os ombros se elevam e depois relaxam quando expele a tensão contida na caixa torácica . lembrei de uma coisa aleatória . não demora mais do que três segundos para que retire a farpa . um ínfimo instante para que pense — quase que falhamente — em outra coisa que não seja o cadáver no andar de cima . não tinha uma música na rádio da faculdade ? era beatles ? a sentença é mais para distrai-la do incômodo momentâneo , onde se põe a caminhar ao lado dela diante à sugestão . será que quem morava aqui curtia esse tipo de música ? estalou a língua no céu da boca , entretida , quando se ofereceu indiretamente para ajudá-la . aposto que a gente consegue carregar mais lenha juntas .
❛ i really, really don't like this. ❜
Angelina já havia aprendido a confiar na própria intuição. E naquele instante, enquanto observava Basil à distância, estava agachada perto da fogueira como se estivesse tentando convencer a própria mente de que aquele era só mais um dia qualquer, algo nela acendeu em alerta. A floresta parecia ter prendido o fôlego. Não havia som de vento, nem o farfalhar das folhas como de costume. Olhou ao redor confusa e ouviu o dito dele. Angel não respondeu de imediato. Só passou a mão pelo cabelo, exalando uma inquietação crua que parecia não caber naquele corpo tão habituado à rigidez. Angelina engoliu em seco. Ela queria continuar cética, queria manter o foco no que podia ser explicado e racionalizado. Mas tudo estava saindo do controle. Até Basil estava e isso a deixava sem chão. — Você acha que a gente devia cancelar o baile, banquete, sei lá? — Ela perguntou, quase esperando um sim, esperando que ele dissesse que era besteira e que o grupo estava pirando. Os olhos estavam fixos em algum ponto que ela não conseguia enxergar. — Talvez... Não sei. Como tem se sentido? Nos deu um susto. — Tentou voltar ao seu ceticismo.
Aparentemente a morte estava de olho na presença de ANGELINA DONOVAN. Quando o vôo 317 caiu, ANGEL tinha apenas 23 anos e a floresta reconheceu como CONFLITUOSA, embora também fosse CURIOSA, mas acho que não gostaram dela mesmo assim. Sabemos que ela ficará para sempre nas memórias de seus amigos e familiares como ALGUÉM SEMPRE BUSCOU A VERDADE, ATÉ O FIM. Espero que descanse em paz, ou talvez volte pra assombrar seus amigos!
Angeline Donovan sempre teve um faro aguçado para histórias e mistérios, mas nunca imaginou que um dia se tornaria parte de um e até hoje nem imagina que isso realmente aconteceu. Nascida e criada em Nova York, Angeline cresceu em um apartamento pequeno, repleto de livros, pilhas de jornais antigos e com o som constante do noticiário na televisão. Filha única de um repórter investigativo e de uma professora de literatura, desde pequena aprendeu a importância das palavras e do poder da informação. Determinada e ambiciosa, ela sempre se destacou nos estudos. Desde cedo, sabia que queria ser jornalista. Quando adolescente, conseguiu um estágio em um pequeno jornal local, onde aprendeu na prática como funcionava o ofício.
Mas sua vida não era perfeita. Seu pai havia deixado a profissão de forma misteriosa, e a relação entre eles nunca mais foi a mesma. Havia segredos dentro de sua própria casa, e Angeline sentia que, por mais que perguntasse, sempre recebia apenas meias verdades. Isso a tornava ainda mais obstinada a buscar respostas, não apenas para sua família, mas para tudo ao seu redor. Desde o ensino médio, ela construiu um portfólio: reportagens investigativas para o jornal da escola, estágios em pequenos jornais locais e até a publicação de um artigo sobre corrupção política em um blog independente, que acabou viralizando. Mesmo sem ter uma condição financeira privilegiada, Angeline garantiu sua vaga em Dartmouth através de uma bolsa de mérito acadêmico.
Era brilhante, mas sua persistência extrema às vezes a colocasse em situações complicadas. Costumava ser mais enxerida e esse fato que lhe rendeu tanto reconhecimento quanto inimizades. Quando ouviu falar sobre a viagem de integração, Chiara viu aquilo como uma oportunidade, não apenas de se conectar com os colegas e fazer mais amigos, mas também de escrever uma matéria sobre a experiência para o jornal da faculdade do qual fazia parte com orgulho. Mal sabia ela que essa história se tornaria seu último trabalho inacabado.
❛ i don't like where this is going. ❜
Estava organizando velas em pequenos potes improvisados com o fundo de garrafas cortadas. Parou por um segundo, o maxilar travado, o olhar fixo em uma vela ainda apagada. Então, inspirou fundo. — Não me diga que também está entrando na ideia de que tem alguma coisa assombrando a cabana. — Angelina arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços. — Não pode ser que metade das pessoas aqui esteja tendo alucinações ao mesmo tempo. Isso tem nome, se chama histeria coletiva, trauma coletivo. Algo assim. — Houve um silêncio entre elas. Não era um silêncio hostil, mas carregado de preocupação. Ela ainda segurava uma das velas, agora tremendo levemente nas mãos. Tentava manter a compostura, mas o medo já estava infiltrado nas frestas da lógica porque ela também não conseguia dormir a noite por ter pesadelos. — Só me promete uma coisa. — Pediu, em voz baixa. — Que se tudo isso… continuar a piorar, você vai continuar falando comigo. Mesmo que eu diga que não quero ouvir.
Angelina escutou Juno em silêncio, observando-a com atenção enquanto ela hesitava nas palavras. Inclinou levemente a cabeça, esperando que ela terminasse, mas não terminou. A frase ficou suspensa no ar, e ela percebeu que a outra garota não tinha coragem de dar nome ao pensamento. Ela entendia. Às vezes, as palavras faziam os horrores parecerem mais reais. — Eu acho que alguém esteve aqui por muito tempo. E acho que ninguém constrói uma cabana no meio do nada sem um motivo. — Angel soltou um suspiro e passou a mão pelos cabelos, jogando-os para trás. — Pode ser só uma cabana velha e um esqueleto de um caçador azarado. — Sua voz carregava um tom prático, mas não exatamente duro. Era simplesmente lógica. — Pessoas morrem na floresta o tempo todo, Juno. Especialmente se estão sozinhas. Você já leu as estatísticas? Eu acho que a gente está exausta, faminta e, pra ser bem sincera, desesperada para encontrar um sentido em qualquer coisa. Mas isso não significa que tenha um mistério aqui.
onde: beira do lago, fora da cabana
quando: 2010, oitavo dia (timeline passada)
quem: juno & open
* — eu... já disse tudo que aconteceu. estava lá, parado... com a espingarda... como se... — "esperasse alguma coisa" era o complemento. mas juno se manteve quieta; já era ruim o suficiente ter sido ela quem encontrou aquilo, como se estivesse amaldiçoada. com certeza as suas observações e sentimentos eram estranhos e malucos o suficiente só na cabeça dela; dizer em voz alta seria absurdo demais. colocou os pés no lago. o clima ameno já estava dando as caras e ela finalmente sentia o humor melhorando um pouco. seria melhor lidar com esqueletos e assombrações com um pouco mais de calor. — só achei estranho porque esse lugar parece no meio do nada. provavelmente por isso que ainda não nos acharam. mas... tinha alguém aqui em algum momento. pode ser que... ainda tenha... — "se não alguém, talvez algo", esse complemento ela guardou. — o que você acha disso? da cabana, do esqueleto...? — perguntou à MUSE. ia ser bom ter perspectivas externas. talvez a ancorasse mais no momento, enquanto se sentia cada vez mais flutuando para outro plano. / ♡
“I don’t need a break. I’m okay.”
Angelina a viu antes mesmo de Pandora perceber que estava sendo observada. Havia uma insistência nos movimentos dela que não pareciam ter a ver com foco, era uma fuga. E Angel reconhecia fugas quando via uma. Pandora não parava. Desde cedo, corria de uma tarefa a outra, mas Angel sabia: ninguém agia assim sem motivo. Sugeriu uma pausa e recebeu a resposta. Ela ouviu a frase, mas não acreditou nela. Na verdade, a certeza de que era mentira caiu como pedra. — Você não precisa provar nada pra ninguém, Pan. Nem pra mim. Nem pra eles. Nem pra você mesma. — Ela tocou de leve no braço da amiga, só o bastante para que ela sentisse o calor de um gesto, sem forçar nenhuma abertura e então se ajoelhou para ajudar com aquelas flores para a montagem do baile. — Tô ali, se mudar de ideia. Ou se quiser só… sentar comigo e fingir que o mundo ainda faz sentido. — E com isso, Angel ficou em silêncio respeitando ela, mas deixando um espaço aberto. Pandora podia ocupar aquele espaço quando quisesse.
O céu ainda estava acinzentado, a floresta exalava aquela umidade constante, e o clima parecia conspirar para deixar todos mais cansados, mais no limite. Não era novidade. O que foi novidade mesmo foi ouvir a voz de Hunter vindo logo atrás dela. Ela virou o rosto devagar, como quem hesita entre responder ou simplesmente fingir que não ouviu. — Bom dia pra você também, Hunter. — Murmurou, meio irônica, sem sequer olhar pra ele. Angelina encostou o queixo na mão fechada, os olhos semicerrados. — Você tem raiva de quem tá com medo ou tem medo de ficar com raiva? — perguntou de repente, num tom calmo, curioso até. — E óbvio que não acredito nisso. — Ela virou o rosto pra ele, o olhar sério. — Eu acho que tem gente surtando, sim. Tem gente no limite, mas não precisa ser um idiota sobre isso. — Angelina não sabia exatamente o que se passava dentro dele e talvez nem quisesse saber, mas reconhecia um pavio curto quando via um. O dele parecia estar em chamas desde que nasceu. — Ter um coração vez ou outra não vai te fazer menos macho, Hunter. E você deveria agradecer que sou uma das únicas te tolerando aqui porque estão querendo te matar lá dentro.
hunter pouco acreditava naquela bobagem que havia acontecido noites passadas. espíritos eram coisas que adolescentes acreditavam, não adultos funcionais. ainda achava que aquele cara tinha fingido tudo por atenção. é o mínimo que parecia diante toda a situação. estavam presos a tempo o bastante para que alguns sentissem falta da mamãe e do papai e causassem todo aquele show para serem paparicados. idiotas dos completos. ❛ você não vai acreditar nessa palhaçada, não é? ❜ a cara é franzida ao que ouve tais falas, se ouvisse alguém mais dar razão aquela história preferia acabar na selva sozinho do que se manter naquela casa. ❛ estava na cara que era fingimento e não obra de espíritos vingativos. ❜ revira os olhos porque mais idiota que um baile, era acreditar que um espírito vivia no sótão só porque acharam um corpo lá. hunter não estava nem um pouco preparado para viver com pessoas tão inocentes assim. ❛ quando eu sair daqui eu vou contar a todos como algumas pessoas se fizeram de doidas só porque era conveniente. a gente só tá preso no caralho de uma floresta, não em um filme de terror. ❜
open starter, timeline passada.
Angelina saiu ainda era cedinho da cabana. O céu parecia um pouco menos fechado, o que, para Angelina, já era uma vitória. Sentou-se em uma pedra úmida próxima ao lago, onde a névoa ainda se agarrava às bordas da floresta. Olhou ao redor antes suspirar. — Tá... então agora fantasmas e espíritos brincalhões fazem parte do cronograma. — Murmurou para si, com um meio sorriso que era mais cansaço do que sarcasmo. — A gente tá há dias sem comer direito, dormindo mal no meio de uma cabana podre e a explicação mais lógica que as pessoas encontram é espírito brincalhão. — Ela sabia que todos estavam se agarrando ao que podiam: distrações, rituais, teorias malucas. O ar estava mais denso mesmo, ela não podia negar. Mas ainda assim, sua mente gritava por lógica. Aquilo era trauma, medo coletivo. Uma brincadeira mal colocada no meio do cansaço e da fome. Por isso nem percebeu quando MUSE se aproximou, a ouvindo falar sozinha enquanto tentava encontrar um pouco de razão naquela loucura. — Eu juro que vou escrever um artigo sobre histeria coletiva se a gente sair dessa, mas até lá vou anotar o cardápio. Entrada: berries da floresta. Prato principal: urso flambado ao desespero. E sobremesa: teorias conspiratórias. — Ela riu de leve, não zombando, mas tentando aliviar o peso. Sabia que zombar da dor dos outros não adiantava, mas às vezes o humor duvidoso era a única âncora possível e até então achava que estava sozinha.
angelina donovan, eternamente com 23 anos, estudante de jornalismo.
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